quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Papo com o Anjo da Guarda


Acabei de liberar você (meu Anjo da guarda). Em termos. Não o livrarei de vez, nada disso! Antes, considerava que você era um soldado, fardado e tudo! Vestido, praticamente, com uma armadura, em minha defesa, como São Miguel Arcanjo. Fiel. Obediente. Um guardião aguerrido, pronto para o combate.


As suas tarefas são muitas e espinhosas, sem descanso, inclusive enquanto durmo: ao meu lado, atrás, acima, abaixo, dentro, onde for cabível um Anjo atuar.

E além, você permanecia preso. Espremido pela vestimenta. Arqueado. Limitado nos movimentos.

Porém, era incontestável a sua dedicação ilimitada. Sempre atento. Paciente ao extremo. Compreendendo-me como ninguém.

Percebi o seu sofrimento. Toquei-me da injustiça e do despropósito. Apresento, em tempo, as minhas desculpas. Resolvi aliviá-lo. Concluí que lhe quero solto, liberto, para intervir a meu favor, com todas as suas forças, na plenitude.

Pergunta capital: por que manter o cerceamento a quem preciso e admiro?

Um ser oprimido não consegue bem desenvolver o seu fadário. Não tem clareza e tranquilidade para agir nem guardar. O Anjo, mais do que proteger, deve estar pronto para despertar na pessoa assistida diversas reações: pressentimentos, sentimentos, sabedoria, cautela, escolhas, persistência e tantas outras. Dessa forma, não é possível atribuir-lhe, literalmente, às suas costas, mais peso.

Não estou sendo egoísta, pensando somente em mim. Havia rigor em excesso na minha tola e maldosa exigência, que um dia, inexplicavelmente, invadiu-me. Apesar de, você não negligenciava na missão. Então, posso facilitar o serviço. Dar-lhe alegria e liberdade.

Para sacramentar a nova condição, deixo bem explicado: esteja livre, companheiro! Mas, não há jeito e maneira de sair mundos e planos afora! Nem cogite! Atenção na causa! Exiba, sim, as suas lindas asas brancas, que estavam presas ao corpo, sob a pesada farda. Sacuda a opressão, estique-se, tome para si a altivez. Todos nós gostamos de positividade por perto. Os combalidos têm poucas chances. Eu sou o seu maior fardo, atribuindo a você trabalho pra lá de árduo. Reconheço. 

Alfredo Domingos