quarta-feira, 26 de julho de 2017

Nosso grupo

As pessoas formam grupos dos mais variados temas: vinho, azeite, costura, baralho, música, leitura e outros.

O nosso é grupo de pilates. Isso! Conjunto de exercícios criado por Joseph Pilates, alemão, depois radicado nos EUA, que resumidamente trabalha a flexibilidade do corpo, o seu condicionamento, em sincronismo com técnicas respiratórias.

Muito bem! Os grupos da academia cumprem horários e o mínimo de regras. O nosso, em particular, frequenta às terças e quintas-feiras, no horário noturno.

As aulas ou sessões correm em estúdio apropriado, sob a condução da professora “Lidia”.

A grande virtude é que além da atividade física, o entrosamento dos participantes, no relacionamento, é total. Praticamente, realizamos terapia para salvar as nossas atribulações e dúvidas, ademais para serenar o espírito. O corre-corre da vida, ali naquele espaço, dá vaga à harmonia. Cede vez às boas conversas e às gostosas gargalhadas.

Os desavisados podem pensar:
- Gente, qual a loucura desse pessoal, que vai cuidar do físico e acaba entrando em estado de descontração, fazendo higiene mental, delirando nos papos de todo gênero, formando um verdadeiro grupo, além do “WhatsApp”?
E criam mais caraminholas, ao perguntarem:
- A professora não controla a situação?
A resposta às perguntas é simples, e pode ser única:
- O quê? Ela diverte-se mais dos que os alunos, e dá força ao bom convívio - risos!

Na essência, Lidia sabe que o rendimento dos exercícios fica facilitado, não havendo perda de produtividade nem de foco. A alegria aproxima as pessoas, forma ambiente saudável.

No quesito comilança, em algumas ocasiões especiais, suculento cachorro-quente é servido, contendo molho pra lá de especial, segredo de família de uma das colegas. Contudo, ultimamente, houve um incremento nas atividades extracurriculares. Estão sendo servidos lanches, de iniciativa dos alunos, no início das aulas. Se me faço entender, o que deveria ser “fitness” está virando gordice!

Mas todo mundo está curtindo a nova versão da comida! Virou, inclusive, oportunidade para testar receitas. Alguns defendem, marotamente, que é incentivo para maior esforço na prática dos exercícios. Será?!

Está na hora de dar uma palinha, amostra, sobre os “loucos” dos alunos (a professora foi poupada, primeiro pela hierarquia de chefiar a tropa, e, segundo, em função de estar infinitamente à espera do conde italiano, para marido, que, até agora, não apareceu...). Sim, por que não escapa ninguém das situações pitorescas, ao menos, no nosso horário de aula.

Sem nomear as “feras”, vamos relatando algumas passagens engraçadas ou inusitadas, para exemplificar:
Uma companheira caiu do cavalo, ao subir num equipamento, que mais parece um touro mecânico, de nome “barril”. Após ter acessado por meio de um banquinho, não o alcançou e foi ao chão, de bumbum. Sem que pudesse ser feito algo antecipadamente para evitar. Foi aquela dor!

A outra ri de tudo, acha uma graça... Gargalha tanto, que fica vermelha, sente falta de ar e acaba com dor na barriga, mas mesmo com os acessos de riso é solidária, fazendo várias gentilezas. A gente acha graça da risada dela.

Há um cara, nos seus sessenta anos, meio estabanado, que se torna engraçado ao contar histórias, dando apelidos e zoando os outros alunos. Atua em parceria com a professora, sem prévia combinação, criando momentos alegres, motivando a aula.

Integra, igualmente, o grupo a mulher que de tudo quer saber: - por que assim ou assado? Mas como isto? Para o quê? Cadê o fulano, que está sumido? E vai desse jeito à exaustão, indagando sem parar. É a própria mulher-dúvida – risos!

Faz parte da turma, também, aquela que muda o “layout” da aparência com frequência, ficando quase identificável, ensejando surpresa a cada chegada na aula. As alterações variam na cor e no corte de cabelo. Mas cá pra nós, ela consegue acertar no quesito juventude. Muda para melhor.

Por último, lembramos da amiga que, mesmo fora do seu dia de aula, cumpre rotina de comparecer à academia para realizar “nobre missão”: surge, indefectivelmente, no salão dos exercícios, de passinho curto e fisionomia de traquinas, trazendo nas mãos estendidas um pratinho, cuidadosamente coberto, como se algo precioso estivesse ali. O “presente” é bem-vindo, mas a balança acaba acusando aumento de peso, se cair dentro. Houve vez, de ela alegar que trouxe alimento “light”, para a professora. Tratava-se de sopa de legumes. Até aí, ia bem! Porém, com entusiasmo e bem-querença, complementou que o alimento estava ótimo, “levinho”, sem mal a causar, uma vez que fora preparado no caldo da rabada, que fizera, preocupando-se em dar toda a sustância. Meu Deus! A gordura tomou conta!

Mas nem tudo é satisfação! Vamos parar para reconhecer.

Dois desastres aconteceram que deixaram marcas de horror nos participantes.

Por partes, é a melhor forma de relatar.

O primeiro trouxe tremendo pânico, digo, até, que espalhou terror.

Em plena aula, que fluía num ritmo de concentração e de bom desempenho, mais que de repente, uma tremenda barata atravessou a sala do pilates. Cascuda. Grande. Nojenta. Com se estivesse passeando pelo calçadão de Copacabana. Não andava. Desfilava. Irque!!!

Daí, houve gritaria geral. A luz até piscou. Teve gente parando de correr somente na calçada. Fora aqueles que subiram nos equipamentos, em desespero.

O segundo desastre, felizmente, não atingiu com lesões a praticante algum. Poderia ter sido muito pior!

Numa sexta-feira. Fim de atividade. Última turma do dia. Poucos elementos. Estando o pessoal cansado pela dura semana. Acredite se quiser, o que era um pequeno estalo virou uma barulhada. Não houve quem entendesse de pronto. Surpresa.

Grande parte do teto de gesso da sala desabou, do nada. Restou sorte a quem ali estava, pois como eram poucos, o uso compreendia área restrita da sala, durante um exercício de solo.

Contadas algumas peripécias, vale ressaltar que em qualquer grupo o que deve prevalecer é a união. Quando destaco a união, sintetizando, refiro-me ao respeito, à amizade e ao entendimento. Esta é a base de qualquer atividade, ainda mais quando se mexe com o corpo, já combalido pelo lufa-lufa do dia inteiro, trazendo no seu interior problemas, desilusões, cansaço, trânsito ruim, etc.

Mas fica o recado, apesar das dificuldades, mexa-se!

À professora tudo! Então, como é que é?... Lidia, receba de todos nós a gratidão. Continue cuidando dessa gente. Louca gente!

Alfredo Domingos

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Perdida, até certo ponto

Coisas que eu sei. Luisinha é doida. Só pode ser. Valha-me Deus!

Vivo atrás dela, pagando o maior mico. Já me declarei. Abri o coração. Pintei o sete. Não entendo o jeito dela. Não consigo conquistá-la de vez. Pra ficar direto e direito. Ter uma continuidade no relacionamento, com pé e cabeça nos lugares.

Às vezes, escreve quinze minutos ou mais de mensagem no WhatsApp. Desmanchando-se de bem-querer. Então, eu me animo, e digo:
- Vou aí, correndo.
Em resposta:
- Não, agora, não. Tenho um mundão de coisas a fazer.
Pronto, esfria tudo!
Passam-se os dias, ela retorna:
- Querido, você está podendo?
Pelo “zap”, também, respondo:
- Sim, amorzinho.
Veio a contrapartida:
- Foi somente para saber...
Desabafei comigo:
- Maluca! Pô!

Outra vez, depois de um tempão sumida, deixou recado:
- Desculpe-me pela ausência. Os dias são tão corridos (pensei que fosse escrever “os dias eram assim” – deixa pra lá!).
- Não tenho tempo de nada!
Em seguida, relacionou todas as tarefas, até quando escovou os dentes.
Parei. Pensei. E meti esta:
- Criatura, você não visita o vaso sanitário? Caso sim, leve o celular para o banheiro e escreva, ao menos, “oi!” – acho que dá tempo, enquanto se alivia. Ora, bolas!

Lucubro, seriamente, que a prioridade dela em relação a mim está baixa, muito baixa. Minha posição é a última da fila, com certeza! Intuo que ela anda perdida, até certo ponto.

Depois, arrumou a seguinte história:

- Ultimamente, um sedan vermelho ronda a minha casa. Estranho e engraçado, ao mesmo tempo, pois parece com o seu carro.

- Luisinha, “meu bem”, sou eu mesmo! Se você notou, por que não me perguntou sobre a estranheza nem foi atrás, acenando, pulando, sei mais o quê?

Claro, diante da dificuldade de aproximação, decidi mostrar presença! Na volta do trabalho, passava pela porta dela. Tentava despertar mais interesse. Buscar um encontro extra, uma surpresa, uma dúvida, motivos para incrementar o que está fraco. Chamei a atenção, sim, mas ficou nisso, sem reação.

Mas há esperança, penso. Avalio que deve haver, no mínimo, um “sabor” na nossa relação. Relação esta distante. Não posso afirmar que existe AMOR – seria forte. “Quem ama cuida”, diz a música, o que não ocorre, e me deixa triste, confesso.

Esta “largueza”, que nos acompanha, e não o “grude”, instiga-me a continuar batalhando pelo nosso pseudorrelacionamento, querendo estreitar a distância, inventando-me a cada momento. Imagino ser salutar, não? Ou é sofrido?
Deixo no ar, para pensarmos.

Porém, para complementar as ideias, surge o momento de revelar um drama que deve contribuir para este “vai não vai” de Luisinha. O passo à frente e o imediato recuo que frequentemente ela cumpre.

Há alguns anos, quando não a conhecia, ela estava pronta para casar. Refiro-me ao próprio dia do casório.

Foi ao salão preparar-se para a cerimônia. Durante os preparativos, caiu “aquela” chuva na cidade, de inundar tudo. Quando foi pegar o carro para voltar, a rua estava cheia, intransitável. Mas impulsiva como é, mandou o motorista avançar. Mais adiante, o carro enguiçou por causa da água. De repente, ela viu-se em pé na rua alagada, na lamentável situação: maquiada, penteada e de véu. Ah, e sem os sapatos! Em segundos, ficou toda molhada, com tudo aquilo que levou horas para ser feito desmanchando-se, escorrendo pelo rosto, e o véu, embora curto, murcho, despencado.

Conseguiu, no entanto, chegar a casa. Destroçada, mas firme.

Apressadamente, reverteu a coisa. Arrumou-se com o vestido que não esteve na chuva, desprezou o véu arrasado, recuperou, ela mesma, a maquiagem e o cabelo, e largou-se a enfrentar novamente a água. Havia de triunfar, depois de tanta determinação diante da amolação.

Conseguiu, finalmente, chegar salva à igreja.

Mas faltava o noivo.

Resultado: ele não chegou. Não apareceu o tal de Fernando. No seu carro, a caminho do casamento, também na enchente, não pôde evitar cair no rio Jaguarão, dentro do veículo. Acharam-no, rio abaixo, ainda com o cravo branco na lapela do paletó de noivo.

Que má sorte dos dois (mais a dele, aliás!). Chuva assassina!

Provavelmente, Luisinha carrega o peso da tragédia, como um freio, travando a sua decisão de envolver-se definitivamente com alguém. Está de permanente quarentena, ressabiada. Passa essa impressão!

E eu sinto as consequências.

Aqui comigo, crio a esperança de que as coisas têm um tempo e o tempo, do mundo, resolve, obviamente com a nossa intermediação. Precisamos ajudar o acaso ou as circunstâncias. Mas vamos e venhamos, dois anos é um tempo excessivo para indecisões. Urge que o pacote seja fechado. Com solução favorável ou não.

Sonhar não custa nada, mas esperar sem limite custa, e como! O coração baqueia.

Passei a entender que cabe a mim forçar o desfecho da dúvida. Dar rumo. Para um lado ou outro. Necessito desadaptar-me do vazio, da pasmaceira. Desagonizar!

Alfredo Domingos