Fonte da imagem: fotografia do autor
O pequenino, mínimo mesmo, que contraria a mania atual do muito e do absurdamente.
No entanto, ali no recolhimento da alma, no cantinho dos sentimentos, existe sentido o pequeno. Aliás, a vida é costurada nas pequenas matérias, nos escassos pedaços, nas bordas, onde passa o limite entre o existir ou não. Às vezes, um “ai” recebe mais valor do que um “peremptoriamente”, momento este em que o sujeito fala de peito cheio, gabando-se.
Então, no mundo pequeno, não posso deixar de me lembrar de Laura, a neta, de dois anos, que tem a ver com miudezas, assim como ela, rica miudeza, quando junta os dedos polegar e indicador para se referir a coisas pichititinhas.
Sua voz até muda. Ela fala baixinho, quase segredando, com ar de riso. Criança, desde cedo, tem as suas espertezas e sabedoria, como na canção “Mora na filosofia”, de Monsueto e Passos. Laura está alojada, em definitivo, na filosofia!
Pois bem, Laurinha aprendeu, sem plena consciência, até aqui, os puros caminhos da vida, interpretando-os com os diminutivos apertadinhos, nas pontas dos dedinhos, sussurrando a astúcia já adquirida, no seu tempinho de existência.
Dessa forma, vira festa mostrar a ela uma joaninha, um carrinho de brinquedo, um cisco na roupa e outras coisinhas sem tamanho.
Seus olhinhos negros brilham ao deparar-se com a novidade. O sorriso abre, envolvendo os dentinhos, ainda com lacunas. Ah, a criança é sábia! Descobre alegria, encantamento, nas singelezas, nas medidas reduzidas, nos objetos curtos.
Cá pra nós, é melhor partir do mundinho para o mundão. Dar “start”, partindo do miúdo mundo de casa, para, mais tarde, aventurar-se pelo ambiente externo, inseguro e grandão, do lado de lá do nosso quadrado.
Enquanto pudermos juntar os dedos para demonstrar o mínimo, teremos mais tranquilidade. Ao passarmos à fase de abrir os braços e falar alto, aí, meu amigo, será barra pesada, percurso para malandro enfrentar.
Viva a Laura! Menina que começa bem, do aconchego para as batalhas. Tomara que tenha arte e visão para ficar a juntar dedinhos, não precisando colocar dedo em riste nem aumentar a voz.
Vá com Deus, a reboque de boas brisas!
Que um ursinho camarada abrace docemente você.
Alfredo Domingos