sexta-feira, 27 de abril de 2018

A aflição que toma conta da gente



(este pequeno texto saiu do nada, de estalo)


A aflição acaba com a gente! Sacrifica! Mas com Deus no coração e nas intenções, tudo acontece! Tudo se transforma para melhor! 

Principalmente, Ele nos traz tranquilidade e fortaleza para enfrentar as amarguras. E aproveitar os bons momentos. 

Reze com fé, a toda hora: na rua, no templo, na casa; onde der. A reza nos leva a falar com Deus. Chore se for preciso, para o seu alívio. Depois, haverá calma e conforto. 

Peça, que Ele atenderá. Pode pedir! 

Se não for possível, Ele dará um sinal sobre o não atendimento. 

Você entenderá. Amém! 

Alfredo Domingos

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Tempos sombrios




Feito a formação sebácea da acne do seu, do meu, rosto. Estamos envoltos pela escória a putrificar lentamente nossas entranhas e nossos pensamentos. 

 Atenção a isso! 

Os tempos são de cuidado, porque estão sombrios. Há perigo na esquina, nos becos. 

Qualquer coisa não deve nos empolgar. É alarmante ter que viver com o pé atrás ou a orelha em pé. Prevenção à flor da pele. Em alerta total. Mas é assim, nos dias que correm. 

Os dias estão assim - árduos. Relaxar é coisa do passado. As cenas bucólicas, arborizadas, com as pessoas felizes, com cestas de piquenique, desestressadas - passaram. 

As brincadeiras infantis, de carniça, de esconde-esconde, de pique-bandeira, de lenço-atrás, foram à falência, afundaram no desuso. Perderam encanto e interesse. 

As dificuldades ocultam as gargalhadas frouxas. Sobraram a nós os risos curtos e apertados. Aquilo que falávamos às escâncaras, hoje, transita à sorrelfa, pelas quebradas. Os abraços apertados minguaram. No extremo, são dados os tapinhas enganosos às costas. 

Cruel sina que nos apanha desarmados, lerdos na percepção sobre o que ocorre! 

Estamos todos cretinos. 

Perdemos a vergonha. 

Tudo pode, desde que seja para nós. 

Na marra, acostumamos a acostumar; ardilosamente, explicamos o inexplicável; e, cordatamente, aceitamos o inaceitável. Tudo por conta de: sonolência gigante; cegueira de quem enxerga; projetos pessoais; combinações escusas; e outros tantos motivos pra lá de maléficos. 

Insensato momento, pelo qual passamos, a nos fazer sofrer e a nos nivelar por baixo. A condição rasteira assumiu cotação máxima, infelizmente, quando deveria ser o mínimo admitido ou até recusado. 

Nos dias de hoje, toma corpo uma corrente contrária ao que está consolidado, efetivado e valendo pela tradição e pela norma. 

Desconstruir cabe nos problemas psíquicos, salvo outro conceito. Nas questões públicas, todo cuidado é necessário. 

O legislador cumpriu etapas, colocou em avaliação, montou grupos de trabalho, usou de experiência, calçou-se contra os imprevistos e as más interpretações, além do indestrutível poder da Constituição Federal; então, não é para tudo se perder, de hora para outra, nem se acabar na quarta-feira. Não existe interesse menor que possa superar o status quo, o que entendido está e funcionando para todos. 

Outra medida, que, aí sim, procede é a mudança para melhor e para a totalidade dos indivíduos, com respaldo, e sob a aceitação geral, por meio dos caminhos legais. 

Passamos por um marasmo de entusiasmo, de ideias e de atitudes. Estamos propensos a deixar o outro realizar ou os governos e as instituições. Isto é mau! 

Em compensação, nos bares, aumenta a horda de fracassados. Olhares vagos. Garrafas vazias amontoam-se. A desilusão domina as pessoas, embriagam-nas, fazendo-as tombar sobre as mesas, com braços esticados e mentes curtas. 

Caras acinzentadas! Discursos velhos! Problemas repetidos e insolúveis! Passos para nenhum lugar. 

Reajam, homens! Vivam! 

Alfredo Domingos

quarta-feira, 11 de abril de 2018

A herança do vinho




Como herança do marido, mulher recebe vários bens. Entre eles, uma preciosa adega, detentora de rótulos, pela qualidade, capazes de disputar com aqueles cobiçados pelos alemães nazistas, na 2ª Guerra Mundial.

Tempos depois, a viúva, dando vez a um avassalador amor, com um jovem com menos idade do que a grande parte dos vinhos estocados, consumiu, uma a uma, as garrafas raras e premiadas, deixadas pelo marido, arranjando motivos para comemorar e beber. Em poucos meses, ficou clara a terra arrasada, ou melhor, ficaram arrasadas as prateleiras. 

Baco, deus do vinho, deve ter coçado o barrigão, de alegria. 

Qualquer coleção tem caráter frustrante. Ela existe para a contemplação e para a eternidade. Talvez o próprio formador do acervo não o aproveite. Não se consome de imediato, como bombom, sorvete ou queijo. 

Olha-se, admira-se, mostra-se aos amigos, e pronto. 

O caso do vinho é mais prático, pois, no futuro, se não estiver avinagrado, alguém o beberá, saudando o dono, que se foi. 

Mas quando se tratam de chaveiros, latas vazias de cerveja, cinzeiros, etc., os que ficarem darão cabo ou continuarão na procissão de apenas juntar e apreciar. 

Acho triste que não se dê continuidade a uma “obra” de ajuntamento, que num determinado período teve graça ou afeição de alguém. Mas o certo é que não dominamos as vontades alheias. 

Tive, na minha vida de sessentão, inúmeras coleções, de quase todas as bugigangas. 

No entanto, resolvi, num domingo apagado de inverno, desfazer-me de quase tudo. De uma única vez. O dia feio deve ter ajudado. Tomar medidas drásticas em dia de sol é mais difícil. Exceção foi feita para a ajuntada de fusquinhas. Eles são os meus xodós, depois da neta, a Laura! Dessa forma, não tive coragem de defenestrá-los. Cedi! 

Mantive-os, e acrescento outros, sempre que surgem oportunidades. Chego a ganhá-los de amigos e parentes viajantes. Possuo exemplares de várias partes do mundo. Loucura? Sim! Santa loucura, que não atrapalha, não dá mofo, nem perde a validade. Os carrinhos estão arrumados em formatura, nas prateleiras finamente elaboradas pelo Seu Pepe, velho marceneiro espanhol, que mais parecia um escultor, com as suas poucas, porém, milagrosas ferramentas. 

Os fuscas, em resumo, são intocáveis, para o depois, sei lá para quando ou até quando... 

Quanto aos livros, não os considero coleção. São “do uso”. Para o gasto diário. Leitura e releitura. Anotações, orelhas, marcações, etc. Num vai e vem constante, entre mim e a estante. Eles representam a vida. A janela aberta. O deslumbramento. 

Observo os livros como biscoitos, que saborearei daqui a pouco. Aqueles que têm sabor de segredos e de renovadas surpresas, a cada nova vista. 

Alguns defendem que as coleções sufocam, juntam poeira, ocupam espaço e atrasam a vida. Vão além, dizendo que temos de “desapegar” – verbo da moda. 

Alego, em contrapartida, que quando vem do gosto, seja o que for, gostado está. Dane-se o resto! 

Não se deve acumular mágoa, raiva e outros sentimentos ruins. Se a satisfação está presente, OK! Vá em frente! 

Ferreira Gullar, o poeta, sabiamente, comentou que os pertences mais íntimos contavam a sua história. Feliz, acrescentou que a esposa havia disponibilizado um canto na sala, somente para as suas coisas. Entre as peças, destacava-se um móbile, feito por ele mesmo, que dava charme ao tal canto. Cheguei a vê-lo em foto. Regozijei-me! 

Cabe, então, uma pergunta muito utilizada, sobre diversos objetos: 
- Para o quê serve isso, hein? 
Resposta tirada do coração: 
- Pra mim. Ora, bolas! 

Voltando ao vinho, ele envolve enorme prazer. Bebe-se gole a gole como se cada um fosse o último. No Brasil, aprendeu-se a beber vinho, embora, nos últimos anos, tenham sido consumidos, em média, 2,0 litros/ano, per capita. O consumo é pequeno, mas para um país com temperatura quente, predominância da cerveja e preço relativamente alto do produto, até que se justifica. Para termos noção, cada português bebe, em média, 54 litros, por ano. Quantidade extremamente superior a nossa. 

Os homens, ultimamente, foram para a cozinha, principalmente para o lazer, e levaram debaixo do braço a garrafa de vinho. Natural, dessa forma, o surgimento, mesmo que aos poucos, do hábito de consumir a bebida, entre nós. 

Tecnicamente, os vinhos devem ser envelhecidos, maturados, iguais às pessoas. O tempo, nesse caso, atua para melhorar o resultado, dar sabor e corpo, da mesma forma que se espera para os indivíduos. 

Alfredo Domingos