Merece constante reflexão,
assunto não novo, a velocidade do tempo.
Muitos são os motivos
apresentados, que fazem com que tenhamos a impressão do corre-corre, tais como
as redes sociais, as agendas lotadas, a ansiedade, etc.
Por estes dias passei por
momentos e por circunstâncias que apontaram, perfeitamente, a nossa ou a minha
fragilidade diante do tempo. Com se diz: o tempo voa! E esse “deslocamento” nos
atropela.
Recebi indicação médica de que
precisava mudar um determinado medicamento. Para tal, foi necessário dar um
período de sete dias entre um e outro, realizar uma pausa sem qualquer remédio,
a partir da semana passada.
Tornei-me vacilante, com medo da
vacância da proteção. Proteção esta devido ao uso
contínuo do remédio.
O primeiro dia foi repleto de
dúvidas e de interrogações acerca das várias sensações que comecei a vivenciar,
assim, do nada. Senti-me numa descida de paraquedas, sem o paraquedas.
Impressionante como somos testados em nossas emoções, que são vulneráveis a
diversas situações.
Meu pai ensinava que estejamos
atentos para dominar as situações, ou elas nos dominarão. Porém, na prática, é deveras
difícil.
Incrível como a ausência das
coisas já inseridas no nosso dia a dia, coloca-nos inseguros. A muleta
emocional cai por terra.
Passei a contar as horas e os
dias que me restavam para passar ao novo medicamento. Elaborei uma tabelinha
para registrar a contagem regressiva. Marcava cada “vitória” (dia vencido) com
uma gaivota (٧), representando um obstáculo a menos ou
uma vitória a mais. Hoje, percebo como destinei energia a esse caso de vida, talvez
desnecessariamente. Como ele se apoderou de mim. Como me apeguei a uma única
razão pessoal, afastando-me de outras preocupações ou diversões.
Com o transcorrer dos dias, foi
tomando corpo uma força interior, uma motivação, para prosseguir no “jejum”.
Ganhei confiança.
No que podemos chamar de recuperação,
percebi, obviamente, como os dias vão-se sucedendo, e de forma muito rápida. A satisfação
em vencer etapas, no entanto, era antagônica à percepção da passagem do tempo.
No fundo, nenhum de nós quer sentir o tempo escoar entre os dedos, pois, realisticamente,
não aceitamos que o envelhecimento atropele o futuro, que é considerado
longínquo. Quando ele, o tempo, rompe tão abruptamente causa-nos aflição.
Superei bem o intervalo da espera, foi num estalar de dedos que me vi
novamente amparado por medicamento. Ufa!
Foi aí que devaneei. A alegria
da conquista misturou-se com o sentimento de perda. Mas qual foi a perda?
Respondo: - perdi espaço. Enchi
a minha cabeça de amofinação. Deixei de pensar em coisas boas e novas. Não
reparei como deveriam estar o sol, a lua, a menina, o velho.
Quando o foco recai sobre uma
determinada coisa, acabamos eliminando outras. Bom seria se conseguíssemos dar
atenção a várias coisas ao mesmo tempo. E mais que isso, se obtivéssemos o valor
de todas essas oportunidades. O viver seria mais intenso, diversificado, e menos
custoso.
Alfredo
Domingos