terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Como os outros nos veem (as piadas sobre nós - apelidos)


Apelido – nome informal, chamamento carinhoso ou jocoso, quando há intimidade ou abuso. Apelidos são habitualmente bem-humorados. 
Normalmente, colocamos apelidos com bom humor, para divertir. Uns são de gosto apurado, outros nem tanto. Em algumas vezes, o apelidado até gosta do que lhe coube; em outras, rechaça a ideia, indigna-se. Fazer o quê?... 
O apelido gruda, feito adesivo, quanto maior for a resistência de quem o recebe. 
Sem considerar os diminutivos, por exemplos: Dinho, Zinho, Quinho, e fazendo o mesmo com os aumentativos, por exemplos: Tonhão, Zezão e Almeidão; caímos nos cognomes inventados, baseados nas situações inusitadas ou na semelhança das pessoas com animais, circunstâncias da natureza, objetos, etc. 
Fui criado no subúrbio do Rio de Janeiro, com predomínio de casas, onde ficava fácil nos conhecermos. Grupos de amigos adolescentes formavam-se nas esquinas das ruas do bairro, nos momentos de folga. Éramos críticos, e fazíamos brincadeiras com tudo e com todos. 
Claro, que os apelidos das pessoas surgiam nesses encontros, com ironia, atingindo, no bom sentido, a vizinhança.
Alguém apelidado de “Foguinho”, em função da cabeleira ruiva, ao ter um filho, igualmente ruivo, apelidou a criaturinha de “Tochinha”. 
Amigo ali da rua, por ser alto, introspectivo e tombado para o lado, ganhou o apelido de “Palmeira Triste”. Outro companheiro, por ter semblante insignificante, esquisito, sem expressão, passou a ser chamado de “Cara de Ostra”. 
Ronaldo, goleiro do nosso time de futebol, por olhar sempre para o horizonte, em contemplação, talvez pela constante procura da bola, foi apelidado de “Paisagem”. 
“Rochão”, amigo que carregava inicialmente o aumentativo do sobrenome, pelo largo tamanho do corpo, recebeu mais um apelido: “ Cara de Pedra”. Obteve-o em função do rosto áspero, de grossa barba. “Ventania” foi outro chamamento cunhado pelo jeito de ser do “homenageado”, Seu Tabajara, homem que vivia correndo, esbarrando em todos, levando surra da pasta de couro, que lhe batia nas pernas, durante a correria.
“Orelha”, realmente, era óbvio o motivo da zombaria, em realce na cabeça do dono da quitanda. Simples, olhar e concordar com o apelido! O sujeito era careca, com um par de orelhas colossal, coitado! Saía de carro, à noite, ao fechar o estabelecimento, e a turma, em coro, gritava: - Orelha, orelha!  (naquele tempo, os vidros dos veículos ficavam abertos; ar-condicionado ainda não aparecera)
Dona Albertina não escapou do apelido. Professora aposentada, usualmente, calçava sapatos de saltos altos, de grossos calibres. Ao caminhar, fazia ritmado e forte barulho com os pés, anunciando presença. De longe, sabíamos da sua chegada, devido ao som produzido. Passou a ser lembrada como a “Dona toc-toc”. Certamente, se fosse hoje, acusariam a turma de politicamente incorreta, até de praticar bullying, mesmo envolvendo adultos. Mas era muito divertido, sem maldade, eu garanto! 
Tratava-se de passatempo numa época sem smartphone e outras maravilhas tecnológicas. 
Para aliviar, vale contar que o único que fazia cara feia era o “Orelha”. O resto não sabia do apelido ou, mesmo que soubesse, não atribuía importância. 

Alfredo Domingos

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Para tudo acabar na sexta-feira


- Cidinha, Cidinha, tá vendo a televisão? Vem ver a notícia sobre o carnaval na Cidade.
Assim, Rosilda entrou na casa da vizinha aos gritos, chamando a atenção.
 - Que doideira é essa? Tô com comida no fogo, superocupada.
 - Afinal, qual o motivo da aflição? – desabafou Cidinha, impaciente, balançando os braços. 
- O Prefeito tá dizendo que suspendeu o carnaval no Rio. 
- O quêêê? Não acredito, é coisa de maluco! O carnaval começa amanhã, sábado, e ele quer suspender tudo, hoje? E o desfile das Escolas de Samba, as fantasias e o dinheiro já pago? – acrescentou ela, aturdida, deixando-se cair na poltrona. 
- As fortes chuvas, as enchentes na cidade, as mortes e as pessoas desabrigadas foram os motivos apresentados pelo homem, para decretar luto e suspender as festas oficiais, promovidas pela Prefeitura. Até os blocos foram impedidos de botar o bloco na rua. 
 A alegria deu lugar à tristeza. A ilusão da festa desfez-se. As cores sumiram. O cinza tomou conta. A quarta-feira de cinzas foi antecipada. 
- Rosilda, continuo sem acreditar. Todo o trabalho deste ano, pela nossa Escola, foi por água abaixo? Passei noites inteiras naquele maldito barracão, mulher!
- Sim, isso mesmo, por água abaixo, com a chuvada que provocou inundação geral. O sambódromo ficou destruído. Nós não vimos na TV?
 - Caramba! Até a meteorologia conspira contra. Tinha que chover tanto nesta semana, em pleno fevereiro, antes do carnaval? Muito azar! Rodoval deve estar sabendo, e, por isso, bebendo sem parar, num bar. Saiu de manhã, depois do café, e sumiu. Em férias, não para em casa. Se ele não sabe, pior a situação! Terá um troço. Ensaiou meses na bateria. Todo entusiasmado. Coitado!...
- Nem sei o quê dizer, amiga. Tremenda decepção. A Lulu ia sair de passista. Brigou com o namorado, que não queria. Acabou convencendo o peste, para não dar em nada? Esforço desperdiçado.
- Rosilda, não vai ficar assim. Te garanto! A comunidade tem que se rebelar. 
- Ih, não sei, não! Dará certo? Qual o nosso poder? 
- Estou com uma ideia: vamos, primeiro, pedir permissão ao Miguelão – presidente, depois, chamaremos os componentes da Escola, que pudermos achar. Faremos uma reunião na quadra para acertarmos detalhes, todos já fantasiados, e dali partiremos para a Prefeitura. De qualquer forma, desfilaremos, danem-se todos! Cantaremos o samba na porta do Prefeito, enquanto ele não nos atender. Vai que outras Escolas aderem! Será beleza! 
- Cida, não sinto que iremos ganhar essa parada. No Brasil, quando a autoridade resolve, não há quem a faça mudar, ainda mais quando é coisa do povão, que não dá IBOPE. Sei, não! Embora existam forças favoráveis a nós: os turistas, a imprensa, a TV, os hotéis, etc. Em resumo, há muitos interesses.
 - Não importa. Acomodada é que não ficarei. Que isso, moçada? Além de tudo, a chuva até parou. Samba é a alegria do povo. Nossa distração e devoção à Escola. Cadê o Rodoval??? Ele entrará nesta comigo, querendo ou não. Está decidido! Carnaval, minha gente!!!

Dias depois:
- Ô, amiga, aceita um biscoito, um café?
- Não, obrigada.
- Então, conseguimos, não foi? Dobramos o prefeito! Ele cedeu a Avenida Visconde de Ipacaray, fez a interdição e colocou a Guarda-Municipal. Resolvido!
- Na verdade, Cidinha, não foi "aquele" desfile, mas valeu!
- No tanto que Rodoval se empenhou, vou te dizer, ele poderá ser o próximo presidente da Escola; imagino isso, dia e noite. Se for, amiga, serei a primeira-dama. Já pensou? Que chique!...

Atenção! Se vacilarmos, a vaidade invade a cabeça, não é?
Uma situação não obrigatoriamente gera outra. A não ser, que os sonhos ultrapassem, em muito, a realidade.
Cuidado!

Alfredo Domingos

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

As palavras e seus voos



"O livro dos ressignificados", de João Doederlein, Editora Paralela, o qual recomendo para leitura, pela criatividade inserida, inspirou-me a lançar mão de algumas palavras, da minha predileção, e apresentar o "meu" entendimento, bem particular, sobre elas. 

Lembrei-me de verbo, substantivos e adjetivos, que me acompanham nos escritos, há anos. Quem escreve tem as suas preferências, desde a forma de engendrar os textos ao uso de determinadas palavras. 

Não vamos esquecer os nomes próprios, alguns até famosos na literatura, que nos fascinam, e vira e mexe são utilizados (Exemplos: Clarice, Manuel, Fernando, Miguel, Cora, Jorge e outros). 

Esclareço, em boa hora, que me encantam os adjetivos. Como eles dão graça, leveza e brilho à vida dos personagens, que, afinal, somos todos nós! Os adjetivos, jeitosamente, também engrandecem os substantivos, insossos que são, por natureza. 

Pois bem, trazemos as tais palavras escolhidas, sem a preocupação de ordem alfabética nem de suas categorias. Saí fora dos padrões e dos grupos. Sentei-me frente ao teclado, e deixei as ideias fluírem. 

São elas:
- ganjenta (adj.) - jeito Emília (a boneca do Sítio) de ser prosa, envaidecida. A vaidade controlada impulsiona o sujeito. Ao contrário, a vaidade desmedida traz antipatia e o afastamento das outras pessoas. Na obra de Monteiro Lobato, Emília comporta-se de forma espevitada, achando-se sabida e dona da verdade. Com razão! Sempre foi esperta. 
- miudeza (subst.) - atributo de miúdo. Coisa pequena ou análise pormenorizada, em detalhes. A vida é feita de miudezas. As grandes coisas não surgem a todo momento. Aquilo que nos incomoda ocorre com frequência, chegando pequeno, mas dando trabalho, aporrinhando. 
- conspirar (verbo) - tramar para dar certo ou não. Está na moda dizer que o destino conspirou a favor. Os estudiosos alegam que conspirar a favor pode ser usado. Não necessariamente o verbo é perverso. A antiga crença da negatividade em conspirar não se faz mais tão enfática. 
- delicadeza (subst.) - anda em falta! Cadê? Ser delicado está em desuso. Todos querem dizer na lata. E acrescentam: sou assim, digo mesmo, chuto o pau da barraca! Uns desavisados chegam a afirmar que delicadeza é frescura. Vamos entender aí o significado de frescura... Delicadeza permeia as ações, sejam quais forem. Na sua ausência, os intentos ficam dificultados. Neste caso, praticamente, não se chega. Não me refiro ao "jeitinho". Este é maléfico, sub-reptício! Igualmente, não menciono o puxa-saco descarado. Falo do modo gentil de pedir, e, até, de exigir. Das boas maneiras de outrora, um tanto esquecidas. 
- pessimismo (subst.) - tomou conta de nós. Verdadeiro tsunami! Estamos tomados pela sensação de que irá dar errado. De que não há mais conserto. Nada presta. Amigos, não é isso, não! S'imbora rezar. Refazer. Enfrentar. Estudar. Dedicar. Sei lá, abandonar as trevas... 
 - reimoso (adj.) - Deus que me livre! Sujeito genioso. De maus bofes. Teimoso. Difícil. 
- resiliência (subst.) - insiste, que cola! Onda pequena, pula-se. Onda grande, enfrenta-se. Problemas, partir para resolvê-los. Não deu certo? Balance os ombros. Azia, não é minha tia! 
- abraço (subst.) - ah, que bom! Acolhimento. Matar as saudades. Arrepender-se. Chorar no ombro. Melhor ainda, o abraço de gordo. Aconchegante. Duradouro. Envolvente. 
- mudanças (subst.) - no plural mesmo! As alterações de vida. As idas e vindas. Momentos de vitória para derrota e vice-versa. Na profissão. De companhia. Até, de humores. Por que, não? Vai que consegue, mude. 
- ódio (subst.) - gosto ruim na boca. Pensamento de vingança. Tormenta nos pensamentos. Tira você do sério. Leva ao erro. Melhor não. 
- saliência (subst.) - brincadeira atrevida. Saída dos trilhos. Abuso. Provocação que pode dar em "zebra". Por outro lado, quando bem entendida, alegra o coração. Aí, coloca a gente nas estrelas. 
 - Amor (subst.) - deixado pro final de propósito. A tudo permeia. Quando se tem é a glória. Na ausência, fica-se borocoxô. Perdoa. Exige. Deve-se dar ao próximo. Essencial na família. Sentimento vindo de Deus. E retribuído a Ele. 

Alfredo Domingos

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Você é assertivo?


Assertividade é uma capacidade que reúne competências emocionais de vários tipos, estas indispensáveis aos profissionais de sucesso, ajudando nos relacionamentos de trabalho. 
Pessoas assertivas são confundidas com pessoas francas em excesso, indelicadas, quando enfrentam acontecimentos inesperados ou difíceis. Porém, as primeiras nada mais são do que pessoas decididas, afirmativas, que sabem se posicionar e exprimir suas opiniões, sem romper a linha da fraternidade. 
Pessoas assertivas evitam circunstâncias desagradáveis, e têm domínio sobre seus comportamentos, tendo as rédeas de si e fazendo escolhas adequadas, com fortes traços de liderança, privilegiando o time, para que ele renda. 
Ser assertivo é conseguir dizer o que quer, com consciência, sem desrespeito, mas também não se sentindo constrangido ou culpado. 
Assim, ser assertivo é usar de transparência, quanto aos seus objetivos e desejos. É saber exprimir-se com naturalidade e dizer e ouvir respostas negativas, frente a algumas situações de vida. 

(texto de autor desconhecido, adaptado por Alfredo Domingos) 

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Ih, deu ruim!



– E a Philomena, hein?

– O quê pintou?

– Você ainda não sabe? Não lhe contaram? Perdeu a boa fama. Caiu na "boca de Matilde". Virou motivo de fofoca.

– A Philó? Depois de cascuda? Mas ela é toda posuda! Sempre tem razão. Sabedoria para tudo.

– Pois é. E com aquela marra toda. Mania de correção. Meticulosa até não poder mais. Roupas de madre superiora. A primeira a chegar e a última a sair. E outros predicados. 

– Mas então a coisa foi séria, pois mudou tudo?

– O que aconteceu alterou o seu (dela) "status quo". Alguém contou para outro alguém, e todos já sabem, afinal, que a madame promove "festinhas" invernais, num outro local, longe de casa. Acontecem esbórnias sem fim e sem compostura. Coisas de maluco! Só vendo ou participando, que será melhor, diga-se de passagem.

– Decepção minha. Sempre a tive em grande conta. Exemplo para nós da firma.

– Certinha em excesso. Era para termos sacado. Quem gosta ou pratica essas lambanças acaba entregando-se. De alguma forma, a situação vaza.

– Ah, coitada! É digna de pena. Se a manobra dela é externa. Fora do expediente. Ninguém tem nada com isso. Problema dela. Vou até dizer: ela possui encantos, hein!

– Pensando bem, você tem razão. Solteira. Bonitona. Salário bom. Faça o que quiser. Aqui, no trabalho, zela por tudo, na maior eficiência. Tem relacionamento discreto, porém, amável com todos. Então, amigo, dane-se o resto!

–E vou falar mais (estou virando fofoqueiro!): deve ter gente nossa indo na onda, frequentando os "eventos", na calada.

– Verdade! Pensei nisso. Desconfio do Jorge, do DP. É atirado em demasia. E cupincha dela. São assim, oh! A Cida, secretária, deve ser da turma. Leva jeito, não acha?

– Nós dois estamos terríveis! Línguas soltas. Não sou eu, sozinho, o fofoqueiro, viu?

– Eu, também?

 – Sim.

– Há um detalhe. Como as paredes falam, além de ouvirem, KKKK, pode ser que a história tenha se espalhado. Ela está para ser promovida. Vir a ser Chefe. Aí, a vaca poderá ir pro brejo, não acha?

- Não! Não acho. Explico: o chefão de todos, Dr. Heleno, é quem decide as promoções. Ele pode não saber da intriga, e ficará tudo bem.

- Agora, você se ferrou! O pior de tudo é que dizem que o Heleno participa e tem um chamego com ela.

- Nossa! E o fofoqueiro sou eu??? Tendo eu mesmo achado, inicialmente!


Alfredo Domingos

Vim

 
Vim. Estou. Há mais de sessenta. Não pretendo voltar nem sair. Ficar. Curtir o que der e se vier. Sentar para ver e ouvir. Contar histórias. Fazer pedaços de histórias. Cruzar o papel. Definhar o lápis. Gastar a tecla. Abrir parágrafos. Passear na Calibri 12. 

Em Minas. Tiradentes. A Serra de São José como cenário. Imponente. Incentivadora de ideias. E como!

Lá, percebi que quase tudo permanece. Pra vida inteira, sem interrupção. Ressalto o Museu de Santana. Paredes grossas. Assoalhos firmes. Pedras trecentistas. 

 Há despedidas, contudo, temporárias. Nascem as outras vidas. Do que for. As emoções. Os ganhos. As perdas. Os amores. Sabemos mais o quê! As igrejas e a fé estão de ontem, muito ontem, para o amanhã, depois.

O homem abre caminho. Desce nas águas. Conduz o cavalo. Levanta poeira na estrada. Roda de carro. Monta no burrico. Pedala a “bike”. Desbrava matas. Abre trilhas. 

Também, esgota o livro. Viaja na música. Passa através da janela. Pula o muro. Grita. Corre. Chora. 

Coisas de humano! 

A natureza segue colossal. Sofre. Contorce-se. Sente, enverga; e resiste. Mesmo com a atuação dos destruidores das vidas de nós todos. Doidivanas do existir, para obterem o nada a ver. Ansiosos pela perda. 

Ela mantém-se sem arrego. Sobranceira. Domadora do descabido. Invasora do impossível. Detentora do belo. 

Vim. Encontrei deste jeito, assim mesmo; e como gosto! 

Alfredo Domingos

Existe solidão?


 Fonte da imagem: fotografia feita pelo autor do texto

Alguns dizem que a solidão mata e ela está dentro da gente. E, quase sempre, pedimos ajuda externa. Precisando de constante apoio e de estímulos. 

Outros defendem que a peteca não pode cair. E que se animam independentemente da interferência alheia. Conseguem renovação por conta própria. Retiram leite de pedra, de acordo com o pensamento popular. 

O nosso companheiro aqui “clicado”, num meio-dia destes, sutilmente estacionado numa amarração de navio, num cais de qualquer destino, tira onda sobre ela, literalmente! Parece estar curtindo, firme, apesar da situação de corda bamba. 

Solitário, mas nem se toca, sendo acompanhado por ele mesmo e pela poética paisagem. Porém, antes de qualquer coisa, encontra-se “completamente livre”. 

Por outro lado, o mar soberano, sem perder a serenidade, permite o conforto, fazendo sentinela do bichinho. O cabo de fibra é um detalhe, no enfoque do visitante. Mero apoio. A leveza da ave quase não necessita de suporte. A sua cabeça erguida bem demonstra a altivez, mas na forma de sossego, sem susto! 

Trata-se de um equilibrista, Bem-te-vi, de nome científico “Pitangus sulphuratus”, da família dos “Tiranídeos”. Possui como peculiaridade o seu canto, cujo som trissilábico propicia o próprio nome. Ele resume-se em si, e pronto! 

Não vamos, no entanto, abandonar o tema “solidão”. Como princípio, estar só é condição inerente ao ser humano. Temos um mundo próprio. 

Muito bem! 

A preocupação começa quando essa condição extrapola, tornando-se uma prisão em nós. Ergue-se, pela solidão, um verdadeiro obstáculo em relação às coisas externas, tão comuns, que passa a ser considerada uma doença dos tempos que correm. 

A solidão merece atenção, principalmente quando surgem os sintomas físicos, ou quando está associada à melancolia, ao desânimo, à falta de apetite ou à inconsistência do sono. Nesses casos, faz-se necessária a procura de um profissional da área (psicólogo ou médico), pois a tendência é estar associada a outros problemas de saúde, como a depressão. 

Vários “remédios” para combater o mal são sugeridos. Desde o medicamento, propriamente, às terapias, passatempos e distrações. As amizades são tidas como essenciais. Igualmente, outros meios de alívio ou cura são divulgados. 

Sim, o bem-estar é que deve nos reger. Sigamos o exemplo dos pássaros, observando-os, ou usemos as soluções de iniciativa própria ou indicadas por terceiros. Tudo é válido! De braços cruzados não devemos ficar. Bons tempos, meus amigos! 

Alfredo Domingos

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Desabafo

Estava devendo uma resposta a mim mesmo:

Compreender os tempos difíceis é tarefa dura, quase impossível. 
O certo passou a ser errado. 
O transparente e claro passou a ser cinza. 
Desconstruir é recomendação de todos para todos, não importa a perda. 
O amor verdadeiro passou a ser ardiloso. 
A fraternidade está fora de moda. 
A caridade é marqueteira. 
O interesse pessoal prevalece diante do interesse do grupo, da comunidade. 
As dores têm escalada vertiginosa. 
O simples deu lugar ao complicado, para gerar bens. 
E assim vamos, sem "paragem", como dizia o meu pai. 
Entendo que só Deus pode transformar a atual situação, melhorá-la. 

Orar é o que nos resta! 

Alfredo Domingos

De mãos dadas


O gesto de segurar a mão do outro é tão grande quanto o oceano. Sinal de encontro numa imensidão. O amor, enfim, quando bem estabelecido, some no horizonte, ocupa espaço sem fim. A imagem do texto apresenta isso, perfeitamente. Não deixa dúvida. O quê levou o casal a escolher a beira do mar? Perpetuar a união com a presença de belo cenário? Ou nada mais do que uma fotografia publicitária?

Nunca saberemos...

Arrisco-me, no entanto, a dizer que foi proposital, e emocional! Busco o viés romântico, onde o amor é assistido pelo oceano “inteiro”. Muito ao contrário do que um dia Caymmi compôs: “É doce morrer no mar”. Desculpe-me o mestre, mas tenho razão! É dulcíssimo viver e amar à beira d’água.

Bela composição, sob a proteção de Iemanjá! Mesmo numa imagem em preto e branco. E pelo aspecto, fazia algum frio, hein! Não foi capturado um verão quente e ensolarado. Os personagens estavam de abrigo. Ou, perguntando outra vez, houve a necessidade de a produção inserir a elegância que os trajes de inverno acrescentam?

Vai saber...

Mãos dadas são o máximo! Ação somente superada pelo beijo. Este, sim, é inapelável! Não há explicação para explicá-lo. É o mais alto grau de uma relação, dentro do universo daquilo que pode ser mostrado.

Notemos, contudo, que a cena é cerimoniosa. As pessoas não se agarram. E as cadeiras um pouco afastadas. Os braços estendidos, dando distância, implicam amor iniciante ou ideia de fraternidade, apenas.

Ficarei injuriado, caso esta última percepção seja confirmada. Não! Não me conformo.

Darei solução: as mãos dadas, folgadas, foram o início do posicionamento. O fotógrafo clicou sem querer. Estava ajustando a máquina. O casal ainda se aproximaria. O homem daria um abraço apertado, um chega pra cá! Depois, viria o beijo, e assim prosseguiriam as coisas.

O parágrafo aí de cima concluiu situação bem melhor, assim penso.

- Fotógrafo, meu filho, altere a cena.

O mar merece companhia mais enternecida. Em vez de “O meu sangue ferve por você” (cantado por Magal), faça com que o mar ferva pelo amor abrasador dos dois.

Alfredo Domingos