quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Deixe o carnaval nos levar!

Um amigo escreveu-me dura mensagem, tratando do carnaval. Revestido de pessimismo, alegou que “não entende o povo brasileiro, esbaldando-se nos blocos e nas festas de carnaval”. Continuou ele indignado com a efêmera alegria “de quem é tão sofrido, maltratado, mal-assistido e sem condições mínimas de trabalho, como exemplos”. 

Resolvi responder, em defesa do folião! Lancei mão de um papelzinho para entregar, como quem não quer nada. Para deixar debaixo do pires da xícara de café, em um dos nossos encontros matinais. Entendo que matéria escrita, com a nossa letra, causa mais impacto. 

Preparei o pequeno texto, transcrito abaixo. 

Carnaval de fato é passageiro, porém, é um momento de liberdade, sem chefe, sem contas a pagar, sem ponto para bater, hoje eletronicamente, sem paletó, sem macacão e equipamentos de segurança e sem os demais elementos incômodos e sérios. 

O sujeito canta, pula, grita, mexe-se, coloca os braços pra cima, bebe; tudo isso se sentindo livre, às vezes no descer e subir das ladeiras das cidades, escoando-se como o próprio chope derramado, pelas ruas, meio sem rumo, mas dentro da festa. 

Desafinado, repete as letras das velhas músicas, que geralmente trazem conselhos de amor, de encontros, de satisfação, de divertimento, como na famosa “Máscara Negra”, de Zé Keti e Pereira Matos, onde encontramos versos deste jeito: “Quanto riso, oh, quanta alegria! Foi bom te ver outra vez! Eu sou aquele pierrô que te abraçou e te beijou, meu amor! Eu quero matar a saudade! Vou beijar-te agora! Não me leve a mal! Hoje é carnaval!”. Música e letra levantam o astral de qualquer um! 

Fantasiado. Oculto de si mesmo e dos outros. Encarnando personagens inimagináveis, até ridículos, contudo, sem pensar em atribulação. 

Sai dali esgotado, bebum e pronto para mergulhar, em busca do sono profundo, na primeira cama que pintar. Terapia “de grátis” e divertida. 

Ao acordar, ainda sonolento, é que, aos poucos, retorna à realidade. 

Assim, tendo tido lampejos de diversão, no turbilhão da luta diária, conseguiu um oásis de felicidade, de descontração. Isso não é bom? Sim, claro! O resto corre sozinho. Inevitavelmente. 

Alfredo Domingos