Estamos aos seus pés, meu Senhor! Sob a sua proteção! A cidade agradece.
Na euforia em que vivemos por conta dos vários e grandiosos eventos no Rio de Janeiro, vamos discorrer um pouco: o Rio é a cidade que a vida escolheu. Pode ser Maravilhosa, da alegria, do mar, da floresta urbana, do samba e do futebol. Mas é aqui que a vida, na sua plenitude, está presente.
Na euforia em que vivemos por conta dos vários e grandiosos eventos no Rio de Janeiro, vamos discorrer um pouco: o Rio é a cidade que a vida escolheu. Pode ser Maravilhosa, da alegria, do mar, da floresta urbana, do samba e do futebol. Mas é aqui que a vida, na sua plenitude, está presente.
É a cidade da saia-justa, do
improviso, do beijo roubado, da pulada de cerca, dos olhares matreiros, das
desculpas esfarrapadas, do atraso, do bom malandro, do péssimo malandro, da
história-cobertura, do rico e do pobre.
Aqui circula o boato, a troça, a
bola nas costas, a conversa ao pé de ouvido, o faz de conta, o passa lá em
casa, o vamos nos ver sem falta, o está tudo combinado, o não conta pra ninguém
que é segredo; logo, o que circula não está no gibi. O quê?! Tem mais: a
sirigaita, o ambulante, a freira, o crente, o pedinte, o gótico, o doutor, o
surfista, o faz tudo, o faz nada, o esperto, o bobo, a menina e o velho. Todos
circulando.
Penso nas palmeiras da Rua
Paissandu, no Monumento aos Pracinhas, no Theatro Municipal, no Pão de Açúcar,
na igreja da Candelária, no Jardim Botânico, na Pedra da Gávea, no Palácio da
Ilha Fiscal e na Baía de Guanabara.
Penso...
Fico, porém, com a gente que
corre nas veias desta cidade. Gente que movimenta as esquinas, que agita os
bares, que samba no Sambódromo, que lê jornal de bicão nas bancas, que lota o
Maracanã e o Engenhão, que compra no camelódromo da Uruguaiana, que pedala na
Lagoa, que joga bola nos campinhos do subúrbio, que faz passeios na Quinta da
Boa Vista, que namora à beira-mar, que frequenta os motéis, que solta pipa no
alto dos morros, que faz churrasquinho na laje, e que vibra por tudo e por
nada. Eta, gente animada!
Lembro-me do pipoqueiro da
Cinelândia, de jaleco impecável, do Miguel do cachorro-quente “podrão” da Praça
Saens Peña, da baiana do acarajé da Praça General Osório, do tripeiro Joaquim
da Avenida 28 de Setembro, do engraxate da Praça Pio X, do vendedor de cocada
da Tijuca, com seu indefectível turbante, do famoso angu da Praça XV, do
Adelzon Alves das madrugadas radiofônicas, na defesa do chorinho e do samba, e
do Washington Rodrigues (o Apolinho), dos comentários de futebol nas tardes de
domingo, com mais de cinquenta anos de carreira. Todos vêm à cabeça, bem
preenchendo as nossas vidas com suas atividades. Todos fazendo o Rio.
O Rio pulsa não só no embalo do
esporte. É uma cidade de realizações. As caminhadas pela Paz. As campanhas do
Betinho contra a fome. Os abraços na Lagoa. As procissões do Santo Padroeiro.
Os shows na Praia de Copacabana. Os encontros nordestinos no Centro Luiz
Gonzaga de Tradições Nordestinas. O Rock in Rio. A Feira Hype. As maratonas
pela Zona Sul. Os passeios de ciclistas. Os blocos de carnaval com seus nomes
criativos, levando o povo na corrente do samba e da cerva bem gelada.
A cidade tem alma. É solidária e
generosa com os seus visitantes. Oferece-se sem preconceitos, sem reservas. Tem
um sol forte a nos banhar quase que permanentemente, deixando-nos com a cara
mesmo de carioca. Somos cariocas de espírito, de graça e de corpo inteiro.
Mas isso tudo é obra sua, meu
Senhor! Seus braços abertos não estão à toa. São acolhedores, amigos e
abençoadores. Ai de nós sem a sua presença! Salvadora presença!
Vale neste momento pedir, assim
com ar sôfrego: não desanime, não. Não se canse de nos amparar. Continue na
luta pela nossa causa. Mantenha-nos no caminho do bem e livre-nos de todo o
mal. Amém!
Enfim, fique com Deus; quero
dizer, fique com o Senhor, para que tenha forças no trato com esta cidade e com
os seus filhos - bons e loucos filhos.
Alfredo Domingos
Alfredo Domingos