Considerando
os dois versos do poema de Fernando Pessoa, Mar Portuguez (título original),
abaixo transcritos, pus-me a refletir sobre o seu conteúdo:
“Quem
quer passar além do Bojador
Tem que
passar além da dor.”
Há muito que pensar sobre estas rápidas
palavras, que simbolizaram a passagem das naus portuguesas pelo Cabo Bojador ou
Cabo do Medo, na altura do Saara Ocidental, no caminho para o Oriente. Dizia-se
de perigos na travessia. Então, prevaleciam as histórias assustadoras, nas
quais os navegadores sofriam desditas nas empreitadas marítimas na região. A
primeira passagem pelo acidente geográfico coube a Gil Eanes, em 1434, feito
este que se constituiu num marco para Portugal disparar aventuras pelos mares.
Feitas as “considerações iniciais”, vou além.
Destacando o segundo verso: “Tem que
passar além da dor.”
O verso faz uma convocação especial à superação
da dor, dos incômodos.
E é neste aspecto que quero me segurar, sem,
porém, afastar-me das “tenebrosas” histórias do Oceano Atlântico (o
“Tenebroso”), fazendo link destas com a vida que levamos.
As mirabolantes ações para ultrapassar os medos,
os fantasmas, as limitações, as doenças do corpo e da alma, não são tarefas fáceis.
Temos um Bojador pela frente a cada dia.
Contornar é preciso, assim como navegar. Se pensarmos detidamente, nem sei se contornar
é o verbo adequado, pois enfrentar parece corresponder mais à realidade.
O amanhã sempre é incerto. Deve haver preparo aliado
à coragem, para nele chegar auspiciosamente.
Por mais que seja previsto o que irá ocorrer, há
diferença entre o planejado e o realizado; sabemos disto. E é bom que seja
assim. O inusitado proporciona a esperteza, alavanca iniciativas. O
desconhecido aparece para nos testar. Munirmo-nos das armas respectivas, mesmo
que repentinamente, é sábia decisão. Enfim, estarmos sempre alertas.
A conquista, finalmente, é o coroamento de
muitas lutas, com agentes internos a nós e externos. A peleja é árdua, mas
propicia conhecimentos e amadurecimento. A gratidão pelas pequenas conquistas é
salutar e robustece a caminhada. Dia a dia surgem novas vitórias. Devemos estar
atentos e fortes para dar valor.
Encaremos, portanto, os “Bojadores”, que se
apresentarem, sem temor, porque o caminho, não o das Índias (Oriente), mas o
caminho para as nossas realizações serão encontrados, com base no empenho, na
fé e na esperança.
Alfredo
Domingos