Sou a Tilde, de Matilde. Minha vida não “é
andar por este país”. É permanecer na catraca de acesso às estações do Metrô.
Por treze anos, esta é a minha rotina.
Atender e atender às pessoas. Milhares delas. Por inesgotáveis motivos. Perguntas
e mais perguntas. A maioria por idosos. Desavisados. Carentes. Tontos. De ótima
fé. Uma curiosidade: jovem, atualmente, faz poucas perguntas.
Os problemas, como já disse, são
inesgotáveis. Perda do cartão da viagem ou a inexistência dele. Seleção das
catracas, por necessidade ou tipo do cartão. Rumo das escadas para as
plataformas tais e quais. Encontrar pacote perdido. Poder entrar e retornar. Destino
desse trem. Menor poder passar gratuitamente. Encontrar o médico. Caso de
roubo. Perda de documento. E assim, vai...
Fico cansada. Em pé não é mole! Mesmo com
período de descanso. Mesmo cumprindo turno. Mas gosto de atender as pessoas.
Por segundos, minutos, elas precisam de mim. Vêm esbaforidas obter o que
necessitam. Umas não são nem muito educadas. Não me importo. É dever servi-las.
Porém, fico assustada com o avanço de muitos na minha direção. Alguns querem
bater papo, do nada! Perguntam pela minha família. Indagam sobre filhos. Não
sabem que não tenho filho. No momento, nem namorado. Tinha Augusto comigo.
Havia plano de juntar os panos. Certo dia, não posso me referir a “belo dia”, óbvio,
ele pediu pra sair. Falou dúzia de desculpas, e foi mesmo. Entupi, em mim, o
rompimento. Não aceitei. Sou do tipo Macabéa! Refiro-me a de Clarice Lispector.
Existe falta de ouvir. Indagam e falam.
Repetem. Mas ouvir que é conveniente, pouco se pratica. Falei em repetir o
assunto. Acontece. Deve ser para ter o outro mais tempo por perto. Um instante além.
Há uma coisa na qual deito e rolo. São os cumprimentos
de “bom-dia”! Adoro recebê-los. E retribuir. São aos montes. O bom-dia, pra mim,
significa a “força” para o novo dia. Sinto que caio no colo do recomeçar. Tenho
mais horas para me abraçar no tempo e na vida.
Rondam o ambiente, de modo geral, certo frio e
vento, vindos dos aparelhos de ar-condicionado e dos ventiladores. Não
descarto, de jeito algum, o casaco cinza. Ele é companheiro. Faz parte da minha
figura. Tenho a sensação de que funciona como escudo, a proteger-me.
A bem da verdade, somos uma turma. É um grupo
que reúne empenhos. Cada um na sua função. Assim, o esforço coletivo rende melhor.
Sou feliz em ter o meu valor individual para somar. A importância de cada trabalho
é você quem dá. Seja ele qual for.
Alfredo Domingos