Sou muito tímido, nos meus 26
anos. Em qualquer situação, passo aperto. A timidez não é doença, mas faz
estrago em grande parte da população mundial, interferindo nos segmentos social
e familiar, e, principalmente, no ambiente de trabalho. Num mundo em que sobressaem
os mais fortes e os mais competitivos, os tímidos, como eu, levam desvantagem.
Desconfio do ambiente, ficando atento para as reações das pessoas em relação a
mim. Na verdade, julgo-me mais do que os outros a mim.
É bom lembrar de que há muitas
figuras de projeção mundial, conquistadores de vitórias, que são tímidas. Quem
diria que Mark Zuckerberg, fundador do Facebook,
é um introvertido contumaz? Considerando ser o Face um canal eminentemente de comunicação, no mínimo, é estranho
que um sujeito tão reservado tenha se envolvido nesse empreendimento.
Estar sozinho comigo é sempre
muito bom. Não preciso dar explicações, oferecer desculpas, medir palavras,
conduzir-me bem e ter outros cuidados que me põem em estado de tensão. O
simples fato de trocar ideias com alguém já me aterroriza. Entrar numa sala
cheia de gente, então, e ter que me dirigir às pessoas é um caos. Prefiro ingressar
pelas beiradas, sem ser notado nem ter que me pronunciar. Há ocasiões em que me
sinto sem cor, gelado, parecendo que irei desmaiar. Fiz terapia e tudo. Quero
dizer: ainda faço. Melhorei bastante, com o acompanhamento psicológico. Mas
ainda há muito a progredir.
Possuo dois amigos, com os quais
me encontro mensalmente, num início de noite descontraído, para uma conversa; em
que sou, disparado, o menos falante. Chego ao ponto de comparecer sempre depois
deles, para evitar contato com pessoas e ter que me expor.
Mês passado, mesmo com atraso,
cheguei primeiro. Pronto! Enrolei-me todo. Não consegui pedir nada, e, para
complicar, o garçom chegava à mesa a cada instante, oferecendo bebidas e algo
para comer. Eu abaixava a cabeça, com os olhos enterrados no chão, e continuava
na mudez.
Durante a espera, observei que uma moça, sentada ao lado da minha mesa,
sozinha, estava completamente à vontade. Chamou o garçom em voz alta, e de
longe mesmo pediu chope e batatas fritas. Desenvolta, com sorriso nos lábios e braços
esticados para o alto. Mais adiante, pediu outro chope. Óculos na ponta do nariz,
mexia no celular, como se estivesse resolvendo assuntos importantes, dando
tarefas, efetivamente, não eram meros contatos pelo WhatsApp, para distração. Na verdade, havia o desembaraço próprio
de quem tem domínio sobre si.
Fui tomado por uma inveja
danada, devo confessar! Como eu estava naquela
situação lastimável, impassível, e ela completamente senhora das ações?
Reconheço que temos
temperamentos diferentes e somos livres para tomar atitudes ou não, lançar-se
ou não. Ali, contudo, encontrava-me em total desvantagem.
Quando as minhas companhias
chegaram, senti-me aliviado. Consegui, aos poucos, obter o equilíbrio,
inspirando e expirando profundamente, para voltar ao normal. E, a partir dali,
foi que comecei a aproveitar a ocasião.
Em quantos momentos devo ter
desperdiçado oportunidades de entretenimento e de troca de ideias, ganhos de
vida, realmente, em função da timidez? Tenho consciência de que desgarrar-me
das barreiras impostas por mim é providência necessária, relevante e urgente.
Da minha caminhada de
aprendizado, captei algumas dicas amenizadoras da timidez, que vou transmiti-las
agora, porém, lembrando que devem ser filtradas e conduzidas por cada um, do
seu jeito: entenda-se melhor; respeite os
seus limites; conquiste sua autoconfiança aos poucos; evite comparar-se; não
considere tanto a opinião alheia; e opere mudanças em si, enfrente, arrisque-se.
Alfredo
Domingos