sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Assim são as coisas


Aquele colar de pérolas da vovó, caro à beça, guardado há anos. Desfez-se somente em ser pego, do nada!

Saco de batatas fritas. Ah! Valha-me Deus, que dificuldade para romper! Puft, batatas ao chão! Em relação a isto, o meu pai dizia: - O mau, até “aquilo” atrapalha. Não é não, mas quase.

Amendoim torradinho, salgado. Serviço de bordo da companhia aérea. Poft, bolinhas para todos os lados! Coalhou o avião.

Paliteiro emborcou. Cabeça furada. Já viu, né? Em consequência, pega-varetas armado no tapete.

Saleiro de tampa mal rosqueada, cambeta. Virou, caiu porção exagerada de sal. O bife foi para a cucuia.

Papel higiênico bem enrolado, hermeticamente fechado. Ponta da unha na tentativa de abri-lo. Fenda no rolo. Pronto, folha rasgada!

Clipes multicoloridos. Saquinho de celofane. Enquanto no bolsinho, OK! Buliu para abrir, resultado: fez montinho, feito palha de aço colorida.

Papel-toalha disponível no restaurante. Mão molhada enfraqueceu. Picote fraco. Puxou, partiu!

Brinco de bolinha. Pinçou com os dedos. Procurou buraco na orelha. Dormiu de touca, não achou, peça caiu no vácuo. Claro, que a bolinha abusada foi parar debaixo do armário!

Água gasosa na garrafa plástica. Copo descartável. Colocou o líquido, copo bambeou. Mesa molhada, calça idem!

Batom na cor vermelha. Procurou o beijo. Metrô sacolejou. Pintou a boca tal qual a de palhaço.

Corrida na orla. Vento. Coqueiro balançou. Boné desleixado no cocuruto. Num piscar de olhos, chapéu ao mar.

Brinde com taças de espumante. Emoção. Batida forte. Plaft, cacos em profusão! Tudo respingado.

Navio apitou para partir. Cais cheio. Despedida com lencinho. Mão fraquejou, lencinho boiou.

Bicicleta em disparada, ladeira abaixo. Trombada no poste. Galo na testa.

Cola Super “Qualquer Coisa”. Pingou errado. Borrou e colou; tudo muito. Desgrudar as pontas dos dedos? Quase impossível!

Torneira vazou. Foi dar jeitinho. Borboleta ficou na mão. Jato na cara. Parede e peito encharcados.

Aviãozinho pro bebê comer tudo. Colher cheia de feijão. Filhinho, birrento, mexeu a cabeça. Borrada na boca e no babador. “Shit”!

Sapato novo. Amigo efusivo aproximou-se. Abraço caloroso. Pisada no pé. Camurça prejudicada.

Bisnaga de remédio cuidadosamente acondicionada na caixa. Retirou a primeira vez. Não há um cristão que consiga guardar novamente o remédio sem que a bula fique toda amassada!

Mestre-sala da Escola de Samba evoluindo na avenida. Salto do sapato quebrou. O homem mancou. Prejuízo no julgamento da Escola.

São muitos os atropelos e as mancadas do dia a dia. Inclusive, a falta de sorte. Daí, surge o inesperado. Ocorrem os escorregões. As quedas. As batidas. E outras coisas do gênero.

Constatamos também como o simples abrir de pacotes e embrulhos torna-se tão difícil. Até parece que estes são feitos para não ser abertos. Inesperadamente, os produtos embalados são lançados ao chão, na ânsia exagerada do freguês por consumi-los. Será que as fábricas não concebem maneira que facilite a abertura?

Tia Violante, filósofa da família, sempre vaticinou: quem está na chuva é pra se molhar; ajoelhou, tem que rezar; nem tudo é só vitória; e blá, blá, blá!

O que ela quer dizer é que “assim são as coisas”, com os mais e os menos. Negá-las como são é fugir da realidade. E, concluindo: quem vive está sujeito às decepções e aos êxitos. Paciência e oportunidade, envoltas em um pouco de arte, são necessárias!

Alfredo Domingos

2 comentários:

  1. "O que ela quer dizer é que 'assim são as coisas', com os mais e os menos. Negá-las como são é fugir da realidade. E, concluindo: quem vive está sujeito às decepções e aos êxitos. Paciência e oportunidade, envoltas em um pouco de arte, são necessárias!"
    Brilhante conclusão! Agora deixo meu pitaco: paciência eu tenho (graças a Deus), mas se alguém souber onde tem disponível as tais "oportunidade" e "arte" citadas no texto, faça o obséquio de compartilhar!

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  2. Diego,
    Obrigado pela participação no nosso blog!
    "Arte" é virtude mais ou menos nata. Podemos aperfeiçoá-la, dar um jeito.
    Mas a "oportunidade" está ali, logo atrás da primeira porta que encontrar. Pode não ser hoje, porém, ela surgirá, certamente. E será sempre cavada por nós mesmos, em função da nossa força nos empreendimentos.
    Tranquilize-se, porque eu sei o quanto você se esforça na busca da oportunidade!
    Meu abraço, Alfredo Domingos.

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