quinta-feira, 11 de maio de 2017

Para não chegar (pressa, incertezas e afins)

Estamos envoltos no “indo” (gerúndio) e no “será (futuro). Coitado do presente, abandonado. Geralmente, residimos na transição – “a empresa está revendo as suas estratégicas”; “os empregados estão sendo capacitados”; a lei passa por mudanças; para citar algumas das falas e procedimentos. Ou, então, tudo se resolverá para frente – “a empresa entrará em novo ciclo de prosperidade; “o governo tomará todas as providências”; “novos servidores serão admitidos, proximamente”; e, assim, transpomos o presente na busca do que ainda virá, e que sempre será algo novo e maravilhoso... pena que, somente na imaginação e nos planos “furados”! 

Pergunta: quando o presente acontece, afinal? (para não dizer “quando o presente estará presente?”) 

Tudo fica para depois. Tudo precisa ser refeito. Tudo está inacabado, em pleno 2017. 

Outra pergunta: quando virão a “prontificação”; o “resolvido”; o “estamos já na nova fase”; e o “planejamento encerrado e colocado em prática”? 

Precisamos penetrar e fincar o pé nas vozes ativa e passiva dos verbos, para que expressemos que as questões estão efetivamente resolvidas. Dessa forma, é que as coisas são encerradas. 

Duas moças pedalavam as suas bicicletas reluzentes, na Orla Conde, no Centro do Rio, semana passada, trocando ideias sobre alguma corporação que tem a sigla “KST” (não sei do que se trata). O que consegui ouvir da conversa, num curto tempo, foi: “A KST está repensando as suas políticas. Em breve ocorrerão mudanças”. 

Desculpem-me as moças, mas disseram o nada! Claro, que não acompanhei o contexto. Foram duas frases soltas para os meus ouvidos, porém, é necessário possuir muito contexto para que esse trecho tenha alguma relevância. 

Praticamente, todos nós estamos nessa vibe de mexer, alterar, revitalizar, reformar, etc., pretendendo chegar, sem alcançar resultados concretos. É um querer sem fim, brilho nos olhos para conquistar. Ansiedade. Alegria extrema. Mas ficando pelo caminho, infelizmente. 

O procedimento antigo do fazer devagar, com cautela, estudando prós e contras, para obter solidez, está em desuso. No embalo do face e do zapzap, com dedos nervosos, vamos antecipando, pulando etapas, terminando de qualquer jeito. Ampliando águas, que não deságuam em oceano algum. A pressa está dominando as ações. Corre-se para o quê? Chegamos sempre atrasados! Não é verdade? 

Aliás, a pressa merece reflexão. Estamos todos afobados. Espavoridos e esbaforidos! 

Reparo que rapidez e proatividade são diferentes da pressa louca. Realizar uma tarefa com pressa, às vezes, é melhor não fazê-la. Há confusão nesse quesito. 

A pressa desponta quando algo saiu do seu curso normal, geralmente motivado por falha no planejamento. O apressamento contamina as outras pessoas. Daqui a pouco, já estamos todos correndo com os nossos afazeres.

Surgem casos de a pressa virar rotina, o que estressa e faz com que o produto final das várias tarefas fique prejudicado. Aí, voltamos ao gerúndio e ao futuro. No meio da correria, começam os comentários: “Fulano está fazendo tal coisa para me entregar. Só depois, farei isto”; “estou aguardando pelo relatório “x”, para realizar a minha parte”; e “somente amanhã, conseguirei terminar este trabalho”. 

A qualidade cansou-se. Esvaiu-se. Para recuperá-la, precisaremos de tempo e de trabalho. Entendo que o pouquíssimo está muito, nas contrapartidas das exigências. É um vazio de solução que está por aí. 

E o detalhamento? Sofrido. Relegado. Não temos paciência nem atenção para aparar arestas, contornar situações, aplicar berloques, longas explicações e usar a correta Língua Portuguesa. Tristeza! 

Há, porém, a certeza de que um dia, mesmo demorando, teremos que chegar... e alcançar os objetivos. Não podemos procrastinar por toda a vida. Atitude, irmão! 

Alfredo Domingos

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