quarta-feira, 19 de julho de 2017

Perdida, até certo ponto

Coisas que eu sei. Luisinha é doida. Só pode ser. Valha-me Deus!

Vivo atrás dela, pagando o maior mico. Já me declarei. Abri o coração. Pintei o sete. Não entendo o jeito dela. Não consigo conquistá-la de vez. Pra ficar direto e direito. Ter uma continuidade no relacionamento, com pé e cabeça nos lugares.

Às vezes, escreve quinze minutos ou mais de mensagem no WhatsApp. Desmanchando-se de bem-querer. Então, eu me animo, e digo:
- Vou aí, correndo.
Em resposta:
- Não, agora, não. Tenho um mundão de coisas a fazer.
Pronto, esfria tudo!
Passam-se os dias, ela retorna:
- Querido, você está podendo?
Pelo “zap”, também, respondo:
- Sim, amorzinho.
Veio a contrapartida:
- Foi somente para saber...
Desabafei comigo:
- Maluca! Pô!

Outra vez, depois de um tempão sumida, deixou recado:
- Desculpe-me pela ausência. Os dias são tão corridos (pensei que fosse escrever “os dias eram assim” – deixa pra lá!).
- Não tenho tempo de nada!
Em seguida, relacionou todas as tarefas, até quando escovou os dentes.
Parei. Pensei. E meti esta:
- Criatura, você não visita o vaso sanitário? Caso sim, leve o celular para o banheiro e escreva, ao menos, “oi!” – acho que dá tempo, enquanto se alivia. Ora, bolas!

Lucubro, seriamente, que a prioridade dela em relação a mim está baixa, muito baixa. Minha posição é a última da fila, com certeza! Intuo que ela anda perdida, até certo ponto.

Depois, arrumou a seguinte história:

- Ultimamente, um sedan vermelho ronda a minha casa. Estranho e engraçado, ao mesmo tempo, pois parece com o seu carro.

- Luisinha, “meu bem”, sou eu mesmo! Se você notou, por que não me perguntou sobre a estranheza nem foi atrás, acenando, pulando, sei mais o quê?

Claro, diante da dificuldade de aproximação, decidi mostrar presença! Na volta do trabalho, passava pela porta dela. Tentava despertar mais interesse. Buscar um encontro extra, uma surpresa, uma dúvida, motivos para incrementar o que está fraco. Chamei a atenção, sim, mas ficou nisso, sem reação.

Mas há esperança, penso. Avalio que deve haver, no mínimo, um “sabor” na nossa relação. Relação esta distante. Não posso afirmar que existe AMOR – seria forte. “Quem ama cuida”, diz a música, o que não ocorre, e me deixa triste, confesso.

Esta “largueza”, que nos acompanha, e não o “grude”, instiga-me a continuar batalhando pelo nosso pseudorrelacionamento, querendo estreitar a distância, inventando-me a cada momento. Imagino ser salutar, não? Ou é sofrido?
Deixo no ar, para pensarmos.

Porém, para complementar as ideias, surge o momento de revelar um drama que deve contribuir para este “vai não vai” de Luisinha. O passo à frente e o imediato recuo que frequentemente ela cumpre.

Há alguns anos, quando não a conhecia, ela estava pronta para casar. Refiro-me ao próprio dia do casório.

Foi ao salão preparar-se para a cerimônia. Durante os preparativos, caiu “aquela” chuva na cidade, de inundar tudo. Quando foi pegar o carro para voltar, a rua estava cheia, intransitável. Mas impulsiva como é, mandou o motorista avançar. Mais adiante, o carro enguiçou por causa da água. De repente, ela viu-se em pé na rua alagada, na lamentável situação: maquiada, penteada e de véu. Ah, e sem os sapatos! Em segundos, ficou toda molhada, com tudo aquilo que levou horas para ser feito desmanchando-se, escorrendo pelo rosto, e o véu, embora curto, murcho, despencado.

Conseguiu, no entanto, chegar a casa. Destroçada, mas firme.

Apressadamente, reverteu a coisa. Arrumou-se com o vestido que não esteve na chuva, desprezou o véu arrasado, recuperou, ela mesma, a maquiagem e o cabelo, e largou-se a enfrentar novamente a água. Havia de triunfar, depois de tanta determinação diante da amolação.

Conseguiu, finalmente, chegar salva à igreja.

Mas faltava o noivo.

Resultado: ele não chegou. Não apareceu o tal de Fernando. No seu carro, a caminho do casamento, também na enchente, não pôde evitar cair no rio Jaguarão, dentro do veículo. Acharam-no, rio abaixo, ainda com o cravo branco na lapela do paletó de noivo.

Que má sorte dos dois (mais a dele, aliás!). Chuva assassina!

Provavelmente, Luisinha carrega o peso da tragédia, como um freio, travando a sua decisão de envolver-se definitivamente com alguém. Está de permanente quarentena, ressabiada. Passa essa impressão!

E eu sinto as consequências.

Aqui comigo, crio a esperança de que as coisas têm um tempo e o tempo, do mundo, resolve, obviamente com a nossa intermediação. Precisamos ajudar o acaso ou as circunstâncias. Mas vamos e venhamos, dois anos é um tempo excessivo para indecisões. Urge que o pacote seja fechado. Com solução favorável ou não.

Sonhar não custa nada, mas esperar sem limite custa, e como! O coração baqueia.

Passei a entender que cabe a mim forçar o desfecho da dúvida. Dar rumo. Para um lado ou outro. Necessito desadaptar-me do vazio, da pasmaceira. Desagonizar!

Alfredo Domingos

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