segunda-feira, 13 de junho de 2016

Criar a todo custo


 Obra de Edouard Vuillard, de 1891, retratando o ator e diretor
francês Aurélien-Marie Lugné-Pöe – Memorial Art Gallery, Rochester, EUA.
Fonte da imagem: fotografia do autor

Está de bobeira, engendrando besteira? Lance mão do papel, criatura. Pequenino que seja, e do lápis, de preferência bem apontado. Para completar, deixe ao lado a borracha macia.
Pronto! As ferramentas estão expostas.

Sacuda, então, a cabeça. Voe o máximo que puder. Rompa a barreira dos preconceitos e das regras. Organize o desencadear da maquinação. Se lhe ajudar, dê um grito forte e se sinta aliviado e preparado para produzir.

Até mesmo um cantinho irá servir, bastando uma pequena mesa no local. Caso não haja cadeira, não fique melindrado, sente no chão.

Em resumo, inspire-se na imagem acima, de expressiva concepção.

A impressão passada é de total entrega, com o personagem buscando concretizar ideias num tico de papel, meio torto, na quina da mesa baixa, usando, ao que parece, um cotoco de lápis, entre os dedos, quase escondido.

Vale perceber a mínima distância entre ele e o papel, havendo a tentativa de ludibriar a “presbiopia” (visão enfraquecida para leitura próxima), o que torna o exercício de ler e escrever penoso (aliás, faltam os óculos!). Mas o artista foi generoso, inserindo um facho de luz sobre o que era necessário focar, ou seja, o alvo da atenção do homem, deixando de enfatizar outro aspecto.

A mensagem final, que obrigatoriamente devemos entender é a da verdadeira obstinação em externar o sentimento, registrar situações e pensamentos, ao extremo custo! De esguelha, como der.

A escrita não dispõe de tempo a perder e chega a enlouquecer o criador, pois frear impulsos de eternizar aquilo que se reflete não é tarefa fácil de suportar, insere uma ansiedade danada! Quase um vício sem remédio. Não há explicação para explicar!

Somente os gênios desenvolvem sem cessar, criam, inventam, onde estiverem e sob as mais diversas condições, e deixam para sempre as suas obras, que brilhantemente conseguem mudar as nossas vidas, para melhor.

Alfredo Domingos

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