(o pingar constante de uma torneira dilacera os nervos)
(atua aos poucos e repetidamente)
(atua aos poucos e repetidamente)
“No Brasil, o que nos assola não é o grande mal. O perigo aqui é o pequeno mal. O mal está no mínimo.”
Este texto fez parte do excelente artigo de Arnaldo Jabor, no O Globo, Segundo Caderno, de seis de setembro de 2016.
Impressionei-me pela boa concepção do texto, porém, principalmente, pela escolha oportuna do momento para tratar do assunto. O cerne da escrita ocorre em tempos turbulentos, mesmo depois da solução da questão do impeachment da ex-presidente Dilma. Tempos esses esperados para voltarmos à calmaria política, o que nos levaria a certa paz para a economia entrar nos eixos e para resolver problemas emergenciais.
Mas, o tema de Jabor faz um alerta. Sinaliza para problema nas entranhas, que corrói o íntimo da sociedade, em todos os seus empreendimentos, de forma quase despercebida, embora feroz.
Estamos no reinado da picuinha, da implicância intermitente, da desilusão a cada esquina, da euforia superficial, de hora pra outra, do questionamento sem resposta, do encurralamento, do é assim e pronto!
Perguntamos inocentes, desavisados: - Cadê a lei? Qual o decreto? Onde está o respaldo?
Não há nada sobre isso. As tratativas são nas sombras, como é moda dizer. Entre uma caçada e outra ao Pokémon. Às escondidas! Mesmo que se trate de assunto votado no Congresso, a sua deliberação baseia-se num estalar de dedos, no que é chamado de fura-pauta.
O rumor é ferramenta dos bobos. O ladino esgueira-se. Consegue sucesso dos intentos sem alarido. O incompetente e inocente grita, esbraveja, arma barraco, uso o destempero. O sabido é polido. Lança mão de artimanhas. Fala ao pé do ouvido. Tapa a boca para que as palavras não sejam percebidas pela leitura labial.
Daí, todos ficam sabendo somente quando a bomba estoura. Porque a ideia matreira saiu da bolação de poucos. Então, funciona assim: o que prejudica ou favorece a maioria é decidido pela minoria? Respondo: - Exatamente!
O bullying bem representa essa ação sub-reptícia, pelos escaninhos, ressaltando a audácia de zombar em equipe, com o amparo de muitos, e notadamente usando da insistência, num processo desenvolvido rotineiramente, e em todos os momentos.
Não aparece na execução do bullying um único articulador, que assuma sozinho a autoria. Há sempre um bando, para que a responsabilidade seja diluída e a graça surja, provocando o divertimento geral; excetuando-se o atingido, claro!
A malvadeza está em esgotar o ofendido, aos poucos, persistentemente. Por isso, às vezes, vemos tragédias decorrentes, envolvendo abandono de colégio, sumiço de casa e outras coisas até mais violentas.
Voltando ao Jabor, entendo que as grandes desventuras são raras. O mal terrível surge de vez em quando, e vem arrasador. O mínimo, como ele diz, é que come como traça, infiltra-se, abre fendas, e nos desespera ao final do percurso, constantemente.
A loucura está no pequeno, que se torna gigante pela insistência e pela assiduidade. Não se acaba com um tabefe, um peteleco. Isso não basta! É necessário usar os mesmos métodos. Com esperteza. No silêncio. Sorrindo, se puder. Cerque, encurrale, fatie e extermine!
Alfredo Domingos
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