sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A idade é o de menos

Inferno... de garoto! Vive atrás de Julinha. Arruma mil motivos para estar ao lado dela.

Sempre dizendo:

- Ju, espere por mim.
- Ju, ajude na minha agenda.
- Ju, vamos estudar juntos.

Enfim, é assim! Numa pequena amostra.

Ela é quieta por natureza. Não diz taxativamente “sim” nem “não”. Simplesmente, faz companhia, vai no embalo.

A idade é o de menos. Estão no início da adolescência. A pureza mora ali. Mas o coração está disparando por tudo e por nada. Mais por tudo!

Não sabemos se é AMOR. Talvez... Porém, afirmamos que é um grude só. Nossa Senhora!

Ela muito delicada. Baixinha. Branquinha. Magra. Cabelos bem pretos.

Olhos vivos são a sua especialidade. Curiosos, em busca de coisas ao redor.

Usa em excesso o “por quê?”. Quer saber muito sobre os momentos e as circunstâncias que os preenchem.

Ele faz um tipo semelhante, mas com diferenças capitais, que veremos adiante. Ajeitado. Branquinho. Óculos. Cabelos alinhados, no estilo. Carregando a Infalível mochila, com o escudo do clube de futebol.

A dupla caminha pra lá e pra cá, dando risada. Andando para não chegar. Jovens olhares iluminam o caminho. O riso é misto de alegria e de nervoso.

Estão na fase lúdica de esconder material escolar, jogar bilhetinho na mesa do outro, fazer caretas e trazer o lanche de um para o outro.

Depois do primeiro semestre de aulas, após as férias, foram correndo para a porta da escola, ofegantes, ansiosos. Encontraram-se num profundo abraço, de perder o fôlego e de dar dor na boca do estômago.

Ela tem mãozinhas de dedos finos, com unhas rentes, cortadas até o sabugo, reminiscência do colégio interno.

Atende ao tilintar do WhatsApp no mesmo instante que ele a chama. Cumpre horários, chegando sempre adiantada, pronta para o que der e vier. Obediente às regras e responsável.

Ele é mais apressadinho, fere um pouco as horas marcadas, atrapalhado, e recorre a ela frequentemente. Mas há uma qualidade a destacar: usa de bom humor, sendo engraçado, espirituoso, quase irônico.

Suas notas nas matérias são menores do que as de Julinha. Isso importa? Não sabemos responder. As virtudes são múltiplas. Num casal, os complementos são essenciais. Não devemos dar peso às faltas e aos excessos. Estes estão presentes, certamente.

Fazem um par semelhante ao cantado pela banda “Legião Urbana”, em “Eduardo e Mônica”. O poeta expõe os contrastes. No nosso caso, pode igualmente ser que a “liga” da parceria esteja nas diferenças. Quer saber? Acaba dando certo!

Sexta-feira passada, na volta para a casa, os dois iam, como de hábito, com a conversa agitada, quando Marcelinho parou e pegou Julinha por um dos braços, mudando de assunto e atacando, direto e reto:

- Ju, vou perguntar: qual será o momento de darmos um beijo de verdade?
- Há quanto tempo estamos juntos (o termo “juntos” foi forte, mas...) sem que coisa alguma tenha rolado? Nem um beijo decente, “daqueles”.

Julinha permaneceu muda.

- Poxa, o que está faltando, caramba? (perguntou com ênfase)
- Nós damos beijos, sim, você esqueceu? - Ela respondeu tímida, falando baixinho.
- Sim, mas são beijos sem graça, no rosto. Parecemos, até, parentes ou amigos.
- Diga, quero lhe ouvir.
- Marcelinho, calma. Primeiro, faltou que você tivesse um pouco de “técnica”. Beijo não é para se anunciar ou perguntar a respeito. A vontade nasce. Evolui conforme a ocasião. E pronto, acontece! Ocorre que preciso me expressar sobre o quê sinto: ainda não estou à vontade para isso. Tenho, por enquanto, uma sensação esquisita. Entendeu?
- Bem, então precisamos meditar, “profundamente”, sobre o motivo de um beijo na boca ser esquisito. Podemos dar um tempo. Sei lá... durante essa reflexão toda. Só reconheço uma situação real: somos os verdadeiros “BV” (Boca Virgem).
- A nossa próxima atitude, sem dúvida, é sairmos daqui. Estamos no meio da calçada, com todos passando à volta, seu Marcelo Alcântara.
- Não se preocupe, resolverei a questão. A solução está nascendo. Vou dizer como:
- Escute, esse beijo virá, com certeza. Não fique assustada se surgir de repente. Cá pra nós, será muito bom. Afinal, representa o desejo de nós dois, não tenho dúvida. Deixe que viajemos na maionese, pois a dupla estará feliz. Risada!
- Venha, precisamos mesmo desocupar a calçada, Júlia Matos.

Alfredo Domingos

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