Desabafos ou
reclamações surgem a cada momento, em função da invasão de privacidade pelas
redes sociais, que as pessoas se dizem acometidas.
A maioria
reclama bastante. Mas, no fundo, gosta com a mesma intensidade. Mais ou menos
do jeito: “reclamo, porém, adoro”!
O vazio que
se sente em não receber as tais “novidades”, “notícias” ou “fofocas”, todas
fresquinhas, de várias fontes, sobre diversos assuntos, mesmo que seja sobre o
nada, faz com que sejamos invadidos por uma angústia danada. É a contrapartida
da ausência, da qual sentimos falta! Podendo, inclusive, ser tema do divã de
psicologia.
Vamos
combinar que as inconveniências ocorrem, e como! Em muitas vezes, os usuários
são sem noção. São tomados por um impulso incontrolável de revelar e de
mostrar. Não importando a ocasião. São capazes dos maiores malabarismos para
estar. As consequências, se acontecerem, serão resolvidas mais tarde.
Nunca houve
tanta aproximação! Nunca a ética foi tão desrespeitada. O velho recurso do
“simancol” (medicamento irreal, hoje seria “virtual”, do tipo: – “vê se
simanca, homem!”, que era passado àqueles que exageravam no avanço dos sinais e
na impertinência) está em desuso.
Na
realidade, penso um pouco diferente quanto a essa aversão à intimidade, que as
pessoas incorporaram, nem sempre de verdade, mais da boca para fora. Hoje,
temos “necessidade” de nos fazer amigos, compadecidos e entendedores de todos
os problemas, de todas as pessoas, ainda que mal as conhecemos. Isto não é de
todo ruim! Serve como alento aos sozinhos.
Advogo que
existem certas ocasiões nas quais a companhia se faz necessária, mesmo a
distância, fazendo com que as redes tenham valor. É melhor trocar bobagem,
desde que sadia, a ficar isolado.
Como exemplo...
A minha
turma de formatura fez um grupo de “WhatsApp”. No início, tínhamos muitas
mensagens. Hoje, alcançamos um equilíbrio, e a coisa está mais restrita. Mas
anteriormente, as datas de aniversário eram divulgadas constantemente, ao longo
das conversas do grupo. Para um universo de além de cem pessoas, quase todos os
dias havia aquela chuva de cumprimentos. Eram parabéns infindáveis, com alguns
textos rememorando passagens de antigamente. Às vezes, as histórias vinham
repetidas do ano anterior. Houve quem reclamasse, alegando que não sobrava
espaço para outros assuntos, inclusive estendendo muito as matérias a ler. A
solução veio com a criação de outro grupo, apenas de “Avisos”, contendo, aí
sim, largueza para os prolixos cumprimentos.
Na minha
linha de pensamento, não deixava de dar força para o congraçamento pelos
aniversários, pois, nós, os velhinhos, tínhamos alegria em nos dirigir aos
demais, lembrar dos acontecimentos e ter, ainda que momentaneamente, com quem
compartilhar as nossas emoções.
Entendo que os
canais de comunicação não devem abordar temas inconvenientes, grosseiros, com
pornografia, etc., porém, ser campo fértil para o entretenimento e o afastamento
da solidão. Deixemos os velhotes falarem! E os demais também!
O contato, vamos
combinar, exige tempo e disposição para acessá-lo, entretanto, há a opção de somente
fazê-lo quando nos convier. Não estamos a fim? Voltemos mais tarde, quando der.
Alfredo Domingos
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