quarta-feira, 3 de abril de 2019

As inconveniências ocorrem, e como!



Desabafos ou reclamações surgem a cada momento, em função da invasão de privacidade pelas redes sociais, que as pessoas se dizem acometidas.

A maioria reclama bastante. Mas, no fundo, gosta com a mesma intensidade. Mais ou menos do jeito: “reclamo, porém, adoro”! 

O vazio que se sente em não receber as tais “novidades”, “notícias” ou “fofocas”, todas fresquinhas, de várias fontes, sobre diversos assuntos, mesmo que seja sobre o nada, faz com que sejamos invadidos por uma angústia danada. É a contrapartida da ausência, da qual sentimos falta! Podendo, inclusive, ser tema do divã de psicologia.

Vamos combinar que as inconveniências ocorrem, e como! Em muitas vezes, os usuários são sem noção. São tomados por um impulso incontrolável de revelar e de mostrar. Não importando a ocasião. São capazes dos maiores malabarismos para estar. As consequências, se acontecerem, serão resolvidas mais tarde.

Nunca houve tanta aproximação! Nunca a ética foi tão desrespeitada. O velho recurso do “simancol” (medicamento irreal, hoje seria “virtual”, do tipo: – “vê se simanca, homem!”, que era passado àqueles que exageravam no avanço dos sinais e na impertinência) está em desuso.

Na realidade, penso um pouco diferente quanto a essa aversão à intimidade, que as pessoas incorporaram, nem sempre de verdade, mais da boca para fora. Hoje, temos “necessidade” de nos fazer amigos, compadecidos e entendedores de todos os problemas, de todas as pessoas, ainda que mal as conhecemos. Isto não é de todo ruim! Serve como alento aos sozinhos.

Advogo que existem certas ocasiões nas quais a companhia se faz necessária, mesmo a distância, fazendo com que as redes tenham valor. É melhor trocar bobagem, desde que sadia, a ficar isolado. 

Como exemplo...

A minha turma de formatura fez um grupo de “WhatsApp”. No início, tínhamos muitas mensagens. Hoje, alcançamos um equilíbrio, e a coisa está mais restrita. Mas anteriormente, as datas de aniversário eram divulgadas constantemente, ao longo das conversas do grupo. Para um universo de além de cem pessoas, quase todos os dias havia aquela chuva de cumprimentos. Eram parabéns infindáveis, com alguns textos rememorando passagens de antigamente. Às vezes, as histórias vinham repetidas do ano anterior. Houve quem reclamasse, alegando que não sobrava espaço para outros assuntos, inclusive estendendo muito as matérias a ler. A solução veio com a criação de outro grupo, apenas de “Avisos”, contendo, aí sim, largueza para os prolixos cumprimentos.

Na minha linha de pensamento, não deixava de dar força para o congraçamento pelos aniversários, pois, nós, os velhinhos, tínhamos alegria em nos dirigir aos demais, lembrar dos acontecimentos e ter, ainda que momentaneamente, com quem compartilhar as nossas emoções.

Entendo que os canais de comunicação não devem abordar temas inconvenientes, grosseiros, com pornografia, etc., porém, ser campo fértil para o entretenimento e o afastamento da solidão. Deixemos os velhotes falarem! E os demais também!

O contato, vamos combinar, exige tempo e disposição para acessá-lo, entretanto, há a opção de somente fazê-lo quando nos convier. Não estamos a fim? Voltemos mais tarde, quando der.

Alfredo Domingos

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