segunda-feira, 29 de abril de 2019

Conversa para distrair



O que é, o que é?
Dobradinha, apertada dentro da embalagem. Mexeu a primeira vez, nunca mais fica igual. Em pouco tempo, acaba amassada e danificada.
Termino com o mistério: é a “bula de remédio”.
Papelzinho cabuloso. De letras miudinhas. De difícil leitura. De conteúdo enigmático - se você conseguir entendê-lo, até o final, será um vencedor. A doença, por certo, irá embora. Entregará os pontos. Por outro lado, o tira e retira da bula, quase sempre, causa dano à embalagem. A caixinha, em pouco tempo, chega ao estado lastimável. Maltratada, com as partes deformadas, em função de tudo que carrega, num espaço mínimo, inclusive o papelzinho, alvo do nosso papo.
Há pessoas que se negam a penetrar no seu teor. Outras alegam ser primordial conhecer. As muitas dúvidas cabem ao médico ou ao farmacêutico sanar. 

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a bula é um documento legal sanitário que serve para obter informações e orientações sobre medicamentos necessárias para o uso seguro e tratamento eficaz. Ela pode ser de dois tipos: bula para o paciente (que é aquela destinada ao paciente, com termos mais acessíveis e diretos) e bula para o profissional da saúde (que é aquela destinada ao profissional, com termos mais técnicos e informações mais complexas). As bulas devem conter informações úteis sobre prescrição, preparação, administração, advertência e outros aspectos relevantes.
Nas entrelinhas, há vários intentos. Alertar o paciente é um deles, e as precauções diversas do laboratório, para se guardar de futuros problemas, são os outros. Daí, observamos informações múltiplas, com nomes e significados complicados.
Então, OK! A ANVISA carimba a utilidade e a legalidade da bula. Muito bem!
Mas aqui entre nós, trata-se de seara difícil. Em primeiro, que somente recorremos a ela por doença, quando estamos fragilizados, o que torna o entendimento um tanto deturpado, pelo estado de aflição. Segundo, porque nos apegamos ao médico, que faz a depuração da bula, transmitindo confiança, no que interessa ao paciente conhecer. 

Há casos curiosos envolvendo a bula:
Marquito, meu primo, leva na mochila um amarrado de bulas. O coitado teme sofrer, de repente, de alguma enfermidade, um mal-estar, que seja, e não se lembrar do nome do medicamento. Faz anotações, na bula, contendo o nome do médico, seu telefone e a doença respectiva. E ainda coloca por ordem alfabética. Conduz o material como um patuá, ou uma âncora, para os medos, vai saber... 
Joana, a amiga, estuda os males à saúde por meio da bula. Faz coleção. Ops! Entendo que a doença esteja nela. Chega a recomendar o “tratamento”, como médica fosse, baseando-se no conhecimento das bulas, que adquire estudando-as vorazmente. Ela, na realidade, pratica aventura perigosa. Já foi avisada disso.
O ideal, contudo, é que não precisemos de medicamento algum. A vida sadia faz bem de muitas formas: bem ao bolso, bem ao espírito e bem quando inibe a necessidade de horas de dedicação às bulas, quase sempre sem entendê-las!

Alfredo Domingos

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