terça-feira, 3 de maio de 2016

Janela para o mundo


 Fonte da imagem: streetartutopia.com
Autor não identificado

 Que saudade, Juju! Mas, entenda aqui comigo. Ao ver esta imagem, lembrei-me, claro, de você.

A natureza era tudo o que lhe atraía, a sua cabeça ganhava em criatividade, conforme narrava seguidamente as viagens feitas, por exemplo, às savanas africanas, aos Alpes franceses, aos recantos dos Andes, ao mar do Caribe, etc. e tal.

Na empolgação, você se deslocava para a janela, pedindo apoio para “furar” o horizonte e ir atrás dos sonhos, e, de costas para mim, descrevia as aventuras. Havia tanta euforia nas narrativas, que eu era apenas um ouvinte, às vezes, atordoado. E você falava sem parar, subindo o tom da voz, alheia ao resto.

Janelas rasgam o mundo para que alcancemos o infinito de expectativas. A vida vira adjetivo, com momentos de interjeição, saindo da simplória condição de substantivo.

Nem são necessárias as grandes viagens, como dobrar o Cabo das Tormentas, passar por riscos incalculáveis ou cometer façanhas. Abra uma janela, apoie os cotovelos, segure a cabeça. Já é!

Você, companheiro, que lê este texto, quer saber?...

Saia pelo quintal ou ali pela pracinha do bairro. Serão encontrados antúrios, caramujos, musgos, samambaias selvagens, cogumelos, paus, gravetos, joaninhas, borboletas, micos, cágados e uma infindável coleção de outros seres, sem contar cheiros, barulhos, raios de sol e pingos de chuva. Concordamos ser indescritível o prazer de sentir o cheiro da terra molhada, para exemplificar uma das sensações.

Num pedaço de chão, chega-se a incríveis descobertas, com mínimas quantidade e variedade de animais e vegetação.

Juju, enquanto não reconsideramos a bobagem que nos separou, naquela manhã de domingo (aliás, vamos combinar, a sabedoria indica não romper alguma coisa num dia morno, lento, de calças curtas – cometemos um erro!), podemos engendrar ideias para a imagem acima.

Para começar, entendo que há um artista por trás, ou na frente, das emoções. Grandíssimo trabalho preencheu a ombreira da janela. Cores fortes. Predominância de tons de verde (de acordo com o cenário externo), com traços de vermelho, laranja e roxo. De janela aberta, a jovem protagoniza a cena, de cara para a natureza, debruçada caseiramente, abancando-se no parapeito a sonhar, enfim! Seu perfil está bem definido, vigoroso, embora possua ar contemplativo.

A criação supera tudo o mais! Ao bater os olhos na imagem, apaixonei-me pela concepção. O truque de utilizar a lateral funcionou muito bem. O ângulo da foto colaborou bastante. É nítida a impressão de interação entre paisagem e personagem, sob a lente aguçada do mestre, unindo o que há de melhor.

Cabe lucubrar sobre a escolha. Por que o artista optou por uma jovem para modelo? Arrisco-me a acreditar que ele apostou na curiosidade própria dos jovens, na vontade irreprimível que eles têm de descobrir.

Sinto inveja, não nego! Deveria ser eu a figura. Roubaria para mim a chance. Curtiria muito!

Alfredo Domingos

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