quinta-feira, 21 de junho de 2018

Crônica pequena, quase mínima II



Quando menina, ela arrancava a cabeça das bonecas - ação considerada de criança. Quando adolescente, esvaziava os pneus das bicicletas dos amigos, liderava grupelhos de desordem e esvaziava frascos de perfumes, nas casas onde estava de visita - ações tidas de jovem rebelde. Quando adulta, enveredou pelos esportes radicais, tornando-se guia de aventuras, pelo mundo. Dizia ser, assim, possível não ter patrão, sede da empresa e, muito menos, mesa de escritório, para ficar amarrada. Andes, Agulhas Negras, Pedra do Sino, Yellowstone, Alpes, Hawaii, Himalaia - atrações constantes dos muitos roteiros disponíveis. Encarregava-se da logística e dos caminhos a percorrer. Excelente instrutora, principalmente para os namorados. Eles provavam o gosto da adrenalina, que os entorpecia. Ela, aniquilava-os nas escaladas, trilhas ou praias desertas, sem deixar pistas. Conseguia surpreendê-los. Sumia com os corpos - ação própria de psicopata e, também, de assassina. Saboreava as macabras vitórias. Nutria-se. 
As coisas praticadas e organizadas na mente crescem dentro da gente. Sejam boas ou más. Evolução inevitável. Ingratas, às vezes, são as consequências. 

Alfredo Domingos

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