segunda-feira, 17 de junho de 2019

Singradura



O navio está atracado ao cais.
Preso a terra, seguro.
Aos poucos as espias vão sendo liberadas.
Até que o navio está solto, livre.
Ele fica sob máquinas, com controle do seu destino.
Vai ganhando autonomia, cumprindo sua rota.
Cruza mares espelhados e mares revoltos.
O comandante o conduz na busca de melhores destinos.
Chegará aos portos quando lhe aprouver ou necessitar.
Assim, somos nós.
Primeiro presos à mãe.
Ao ganhar idade, vamos nos soltando.
Nossas cabeças passam a nos guiar.
Passamos por algumas situações calmas e por outras nem tanto.
Pegamos ventos serenos, mas, também, enfrentamos vendavais.
Atracamos em muitos portos, uns seguros, outros não.
O conhecimento e a sabedoria vão fornecendo as ferramentas.
Operá-las é por nossa conta.
O resultado é fruto.
Pode ser doce, gostoso.
Pode ser amargo, detestável.
Tal qual o navio, que enferruja e fica obsoleto,
Somos nós ao entrarmos na velhice.
O estaleiro repara o navio.
O médico restabelece a saúde.
Mas o navio e nós paramos um dia.
Viramos todos sucata.

Alfredo Domingos

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