quarta-feira, 12 de junho de 2019

Solitário, no meio de todos



O fotógrafo Julio Bittencourt, no sábado, dia 4 de maio de 2019, teve alguns dos seus trabalhos colocados no Segundo Caderno de O Globo, página 2. O tema das fotos me interessa, assim resolvi conversar sobre ele. 

Dentre as fotos escolhidas para comentar estão duas de várias pessoas, no vagão do metrô de Tóquio e uma contendo verdadeira multidão, numa piscina na China.

O título acima, deste texto, reproduz bem o que quero comentar. Embora acompanhados, estamos nos acostumando à solidão. Rodeados de indivíduos, assumimos um vastíssimo isolamento. 

Nas grandes cidades, as residências estão cada vez menores, assim como os espaços de trabalho estão compartilhados, porém, isolando o indivíduo no seu casulo, o que reduz a companhia e a troca de palavras e de sentimentos. Aí, entram, de chofre, o celular e o iPad. Ocupando o vazio, que não existia, mas criando uma fuga para novos locais e pessoas, fora dali, embora sejam importantes veículos para a comunicação.

No metrô de qualquer cidade, a cena mais comum é os viajantes estarem sós. Os grupos de conversadores são vistos em minoria. Estão indo ou vindo de algum lugar para outro, quase sempre com suas cabeças funcionando, longe daquela circunstância. O celular ocupou muito dos espaços mentais pensantes. Deixamos a condição de vagar com os pensamentos, para produzirmos sonhos e castelos. Estamos passando por situações de vazio, mas preenchendo-as com coisas e assuntos alheios, globalizados e passageiros. O novo está difícil! Repassam-se cliques e conversas, sem o devido proveito, sem emitir opinião séria. O pitoresco instalou-se. O que não se enfrenta em troca de risada sem graça? Lá quero conhecer o prato do qual você fartamente se abastece no restaurante da moda? Não preciso conhecer o filho da irmã da namorada do sobrinho, que acabou de nascer, ainda tendo que concordar que o pequeno é a cara da avó. 

E assim, vamos tropeçando nas cabeças alheias que produzem matérias que não nos interessam.

E as relações próximas como ficam? E o companheirismo e a troca de confidências? Isso tudo ficou para as calendas gregas?

Alfredo Domingos

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