segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Em família – Dia do Pai

Cidinha, filha única, capitaneando a sua tropa familiar, passou a semana fazendo contatos      com os parentes para o almoço do Dia do Pai. Vários telefonemas, muito uso do whatsApp, alguns “e-mails”, por fim, que trabalhão!
Uns queriam almoço em churrascaria, outros queriam um “churrasquinho” no play. Fechado! A maioria venceu. Ficou para uma churrascaria do tipo rodízio, no Rio de Janeiro, daquelas que ficam superlotadas. 
Na porta, a família esperou pela mesa mais de uma hora. Tudo bem! Afinal, é dia de festa.
Sentados. Pedidos chopes e outras bebidas. Todos com sede e fome. Os acepipes sobre a mesa. Todo mundo “ataca”.
Silvinho, o neto de quatro anos, colocado em uma cadeira alta para crianças. Agitado, derruba, imediatamente, o pratinho de azeitonas. Tira batatas fritas com as mãos, sem parar. 
Silvio, o pai, aquele cunhado inconveniente de quem ninguém gosta, estrategicamente posiciona-se do outro lado, não está para incômodos; só para tomar chope. Foi por isso que distanciou-se da sua família.  
A mãe do garoto, Magali, atrapalhada, querendo manter a finura, ralhando com o filho o tempo todo, mal participa.
Rubão, que de “ão” não tem nada, é magrinho e encolhido. Chega com flores para as mulheres e loção pós barba para os homens, fazendo gentileza, como é do seu jeito.
“Maria dos Anjos”, de nome tão puro, estudou em colégio religioso. A neta, criada para ser “lady”, hoje é “rave”. “Piercings”, vários, que geraram em uns, agrado; em outros, estranheza. Tatuagens espalhadas pelo corpo. Cabelo nas cores vermelha e laranja, uma novidade! A roupa preta e não faltam as botas, é claro!
Cícero, um tio esquisitão, que vai a todos os eventos da família, diz que não liga para comida e que parece um passarinho, pela pouca quantidade que belisca. Na verdade, é um “morto de fome”. Metido a polido, mas não rejeita prato algum! 
Tia Leontina, figura de Fellini, viúva de dois maridos, volumosa, suarenta, cabelos negros e compridos. Fala compulsivamente. Cospe na mesa toda, porém é “suportada”, pela generosidade. Possui duas pensões e uma aposentadoria - estamos antes da reforma da Previdência - “Cheia do ouro”, como dela falam.
Lá pelas tantas, Magali clama a Silvio que fique com Silvinho: - Poxa, estou que não me aguento. Não consigo comer com este menino que é um “inferno” e você aí, distante, feito um nababo! Ele é seu filho também, gracinha! Assim não venho mais... Silvio não se abala, representado pelo interesse de tomar uma “grana” do cunhado, Eduardo, empresário de sucesso, que é querido por todos. 
Vó Isaura já veio almoçada. Portanto, só pede uma asinha de galinha, bem tostadinha. Fica querendo. A asinha não chega. Acontece... 
E o chope rolando... 
Rosa Maria, prima solteira, mas não solteirona, com seus quarenta anos, bonita, esguia, ar enigmático, tendo mãos bem desenhadas, que falam. Guarda segredos que despertam curiosidade. Bem postada na vida, como se diz. Ajuda a quem precisa. Age sutilmente. Come o suficiente, com elegância. Trouxe recadinhos escritos para os pais. Tia Leontina até fez referência: - Rosinha não se esquece das pessoas; ela é ótima!
Ricardo e Osvaldinho são primos. Um flamenguista e o outro vascaíno. Comendo e discutindo futebol. Discutindo futebol e comendo. Fazendo apostas. Colocando desafios.
Sarita, menina ainda, derruba o guaraná, que escorrega e vai direto para a calça branca, de ir à missa, do tio Cícero. Ele sorri amarelo, não reclama! Seca com o guardanapo.
      A torta aparece para selar a data. Chocolate. Morangos. Creme. Presente o canto de parabéns!
        Hora de pagar a conta.  
        Silvio disse que não bebeu aqueles nove chopes que lhe atribuíram. Ele não concordou: - Tem erro nisso aí. Outra pessoa refaz a conta. A discussão toma corpo. 
        Rosa Maria deixou mais dinheiro do que lhe cabia. Mandou um beijo de longe e foi embora. Esquiva-se de confusão. 
        A conta não chega a termo. Discordância. 
        Eduardo, ele sim, o empresário, passa o cartão, metade de todo o valor, e sai. Outro que se desenrola de enrolação. Pelo jeito, avalia que aborrecimento por pouca coisa a menos não vale a pena.  
       Alívio para o resto da turma esperta. A conta fecha. 
       Ufa! As pessoas começam a despedir.
      E as flores? Ficam sobre a mesa. Rubão fez o seu papel, não importando o proceder dos demais. No entanto, o encontro familiar, mesmo tumultuado, deve ser preservado.
      Até o próximo ano!


Observação: muitos nomes desfilaram pelo texto acima. Próprios das famílias. Muitas circunstâncias foram comentadas. Próprias das famílias.
Desses momentos, o que efetivamente resta é a confraternização. O encontro das pessoas faz as datas. Pode chamá-las, as datas, de comerciais, exploradoras, o que for... mas são praticamente elas que unem os membros das famílias, ao longo do ano. Sem elas, os encontros seriam muito mais raros.

Alfredo Domingos


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