sexta-feira, 27 de março de 2015

A perereca da academia


Manhã quente em Petrópolis, quase verão. Academia repleta. Piscina concorrida. Aulas em andamento.   
 Como nos bons filmes de suspense, repentinamente, ocorreu um grito de terror! 
 Pânico! Corre-corre! Todos saíram da piscina, no atropelo! 
 Na balbúrdia, no empurra-empurra, foi derrubado o guarda-sol do entorno da piscina, que ficou aberto, de perna pro ar, apontando para o céu! 
 Mas houve o quê? Esta é a pergunta. “Petúnia Matias”, a perereca aluna (nome científico: Osteocephalus Taurinus), estava dentro d’água, simplesmente cumprindo o programa diário de natação, e, por acaso, fazia o nado de peito, rigorosamente nos limites da raia. 
Porém, escandalizem-se os senhores, o que a sua presença causou de confusão e estresse não está escrito em bula alguma! A indignação foi geral. Os outros nadadores foram obrigados a sair da piscina às pressas, para fugir da “grande” ameaça. Houve um bafafá arretado. 
Enquanto isso, a pobre, quietinha, no canto, a tudo observava, sem entender tamanho espanto. Achando-se completamente inocente, claro! Afinal, era sócia, também, da academia! 
Depois de retirada da piscina, à força, a coitada passou por uma profunda investigação, sendo vítima de cruel vexame. Muitas foram as transgressões apontadas, vejamos: 
- não usava boia de braço, touca, óculos de piscina e pé de pato; 
- estava nua, sem a roupa de banho; 
- exame médico desatualizado; 
- não foi vista passar pelo chuveiro, antes de mergulhar;
- apresentou três meses de atraso quanto à mensalidade (houve quem a observasse passando debaixo da catraca de acesso, ludibriando o controle!);
- devia à cantina o consumo de sucos e sanduíches naturais; 
- seu endereço constava na ficha como “desconhecido”, assim como, o peso; 
- e, por fim, seus modos “espalhafatosos” não foram condizentes, trazendo desconforto aos demais frequentadores. 
E Petúnia, delicadamente, de cabeça baixa e olhos tristes, somente alegou: 
- Não entendo o alvoroço! Apenas, eu nadava, exercitando-me. Qual mal há nisso?

Alfredo Domingos

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