quarta-feira, 6 de maio de 2015

A mulher amada


A mulher amada precisa, antes de qualquer coisa, ser minha, e bailar no nosso amor. Gostar das mesmas coisas, talvez nem tudo... Mas fazer cara de aprovação quando manifesto o gosto.

Deve ficar à vontade para falar de mim, dela mesma e da relação. Falar em relação, não precisa a todo instante querer discuti-la. Não, não precisa.

Pode ser crítica, fazer comentários picantes, divertidos, até que discorde daquilo que penso. Para tal, a alma deve ser leve, arejada. Uma fofoca inocente, vez por outra, até que vai bem, não tira pedaço, vamos combinar.

Gostar de futebol, isso precisa. Afinal, a mídia está no futebol e nas celebridades a ele ligadas, o que rende assunto. Curto muito o futebol. Se puder, que fique ao meu lado ouvindo as resenhas esportivas pelo rádio, no escurinho do quarto, melhor ainda.

Deve ser branquinha, de pele macia. Não precisa ser sarada, marombeira. Caminhar pelas ruas de mãos dadas é tudo de bom. Tanto faz se for despojada ou elegante produzida. Pode usar tênis ou saltos altos. Vestido, calças apertadas ou bermudas largas, tudo vai bem.

Fico amarradão se for parceira numa noite chuvosa de sábado, em casa, saboreando queijo curtido e vinho honesto. Não reclame na falta de taça sofisticada e de faca apropriada, de corte infalível.

Que seja companheira nos momentos de aflição. Quando vier aquela dor maluca, que diga chorosa: - está sofrendo, coitadinho. Em seguida, que me leve ao médico e fique na sala de espera rente que nem pão quente.

Não se incomode com as minhas roupas desarrumadas no armário. Quanto aos papéis amontoados na escrivaninha, bagunçados, que não se amofine com eles.

Pode ser inquieta, ansiosa, medrosa, espavorida ou esbaforida. Não dou importância. Tudo isso é suportável e fornece inspiração para histórias. Acaba protagonizando hilárias situações.

Carece, sim, de ser disposta para o amor. Que tenha disposição para estripulias e aventuras amorosas. Que faça, com arte, os movimentos do globo da morte e da mão que balança o berço.

E, principalmente, que me perdoe sempre, em especial ao saber destas exigências de ser isso ou aquilo, deste verdadeiro cardápio egoísta, que aprontei aqui. Que dê risada desdenhando estes tolos requisitos e que de bom humor diga: - Vá esperando, meu filho!...
Alfredo Domingos

2 comentários:

  1. Pai, otimo texto! Amei o final... kkkkkk Criativo e engracado! Parabens!!! bjos

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  2. Obrigado. Estamos na lida. As relações não precisam ser perfeitas. Bastam existir. A parceria é o que vale! Bjs.

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