Fonte da imagem: professorvallim.blogspot.com
A “vírgula” é condescendente. Permite pausa, ainda que breve. Dá chance para esticar o assunto, para novos voos. Muito charmosa, insere-se levemente. Sua atuação é quase imperceptível, exceto na marcação do vocativo.
O “ponto e vírgula” é um sinal generoso. Oferece parada maior. Abre portas às novas ideias, concedendo alívio à respiração e ao pensamento. Exige maestria no uso.
O “ponto de exclamação” é altivo e, ao mesmo tempo, animado em demasia. Não há situação ruim. É um cavalheiro, pois realça a circunstância. Faz brinde à boa convicção.
O “ponto de interrogação” é um coitado. Curvo por natureza. Carrega o peso da dúvida. De tudo quer saber. Não se sacia. É enxerido por ofício.
O “travessão” quer falar. Abre alas à conversa. Amplia o que é de um para vários. Realiza a inclusão.
Os “dois pontos” não se contentam com um só dizer. Querem relacionar, enumerar. Executam o papel de explicar. Usam a vírgula ou o ponto e vírgula, e vão fazendo lista, até o ponto final.
Os “parênteses” são sem glamour. Um tanto intrometidos. Inserem-se. Não podem escancarar a matéria. Vivem para melhorar ou dar entendimento à alguma coisa. Mas um mérito eles têm - contêm o cerne de algo, ainda que resumidamente.
As “aspas” são engraçadas. Saem da escuridão para que terceiros brilhem. São inseridas, também, para remediar, disfarçar e distorcer o sentido. Dão margem à interpretação diferente. Reforçam os estrangeirismos.
As “reticências” são pra lá de educadas. Trazem o recado nas entrelinhas. Englobam suspense. Cabe ao leitor fazer a sua avaliação. Deixam que ele resolva. Carregam alegria ou tristeza. Democráticas. Andam em grupo, na formação de trio.
O “traço” separa ideias, corta o sete, indica sílabas, faz companhia aos números. É elemento praticamente despercebido, porém, possui o seu valor.
O “ponto” finaliza, encerra. É frio por excelência. Não enseja continuação. Depois dele, toda reza finda. Corta a inspiração e a conspiração. Contudo, é enérgico. Acabou, e está acabado.
= Alfredo Domingos = (texto original de março de 2015, revitalizado em setembro de 2023)
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