terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Vim

 
Vim. Estou. Há mais de sessenta. Não pretendo voltar nem sair. Ficar. Curtir o que der e se vier. Sentar para ver e ouvir. Contar histórias. Fazer pedaços de histórias. Cruzar o papel. Definhar o lápis. Gastar a tecla. Abrir parágrafos. Passear na Calibri 12. 

Em Minas. Tiradentes. A Serra de São José como cenário. Imponente. Incentivadora de ideias. E como!

Lá, percebi que quase tudo permanece. Pra vida inteira, sem interrupção. Ressalto o Museu de Santana. Paredes grossas. Assoalhos firmes. Pedras trecentistas. 

 Há despedidas, contudo, temporárias. Nascem as outras vidas. Do que for. As emoções. Os ganhos. As perdas. Os amores. Sabemos mais o quê! As igrejas e a fé estão de ontem, muito ontem, para o amanhã, depois.

O homem abre caminho. Desce nas águas. Conduz o cavalo. Levanta poeira na estrada. Roda de carro. Monta no burrico. Pedala a “bike”. Desbrava matas. Abre trilhas. 

Também, esgota o livro. Viaja na música. Passa através da janela. Pula o muro. Grita. Corre. Chora. 

Coisas de humano! 

A natureza segue colossal. Sofre. Contorce-se. Sente, enverga; e resiste. Mesmo com a atuação dos destruidores das vidas de nós todos. Doidivanas do existir, para obterem o nada a ver. Ansiosos pela perda. 

Ela mantém-se sem arrego. Sobranceira. Domadora do descabido. Invasora do impossível. Detentora do belo. 

Vim. Encontrei deste jeito, assim mesmo; e como gosto! 

Alfredo Domingos

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