Fonte da imagem: fotografia feita pelo autor.
A natureza imita a vida ou a vida imita a natureza? Sei lá… Não convém lucubrar.
Caminhando pela Rua Sorocaba, Botafogo, na cidade
do Rio, deparei-me com a árvore da imagem aí de cima, na altura do número 190.
Uma senhora árvore. Bonitona! Fiquei pensando que a árvore, com a ajuda
laboriosa das raízes, busca vida, espaço e completude, entre outras coisas.
Os humanos também têm necessidades semelhantes,
no mesmo emaranhado, na mesma disputa desenfreada das raízes da planta, numa
confusão enlouquecedora. Mas existe a desvantagem de precisar obrar, ralar,
como se diz comumente.
A resolução dos interesses das pessoas não é
tarefa fácil. Várias searas são envolvidas, desde a gestação até a situação de
idoso. Não há como não interagir. O isolamento é fatal para o indivíduo, que,
por mais que recuse, não consegue progredir sem a colaboração de alguém: a mãe,
a professora, o síndico do edifício, o patrão, o agente público, o médico, o
marido, o próprio filho, e por aí vai…
Com a nossa amiga árvore, ocorre diferente. Ela
consegue viver com muito pouco. Silenciosamente. São necessários, basicamente,
ar, sol, água e terra, com incômodo mínimo, resolvendo-se sozinha. Até acontece
o contrário, são as pessoas que perturbam a mansidão da planta. Dá para
observar na foto que a expansão da árvore está contida pelo canteiro feito na
calçada. A bonitona está encurralada, safando-se do jeito que pode.
Caso fosse a situação de um “senhor” humano, ele
destruiria o empecilho, romperia o obstáculo e sairia arrotando bravura. À
coitada, por outro lado, só resta conformar-se e proceder da forma que Deus
permite.
Cabe comentar o costume de uma amiga de origem
oriental, Yeda, que, quando estava aborrecida ao dormir, deitava sob uma
pequena árvore da sua sala, no chão – não sei se de quimono… Dizia,
candidamente, que ao acordar estava renovada, leve. Santa companheira!
Recordo-me da nora Luciana, que, ao fazer a mudança da cidade de Niterói para o
Rio, não se esqueceu de Gertrudes, árvore do seu xodó.
Aproveito para narrar história pitoresca sobre a
tal Gertrudes: no transporte, em plena ponte Rio-Niterói, a árvore, instalada
na carroceria da picape, balançava cordialmente a copa, no embalo do vento,
como no gesto de cumprimentar a todos, expressando-se numa delicada saudação.
Parecia uma imponente porta-bandeira, cumprindo o seu desfile.
Voltando à nossa árvore, lá de Botafogo, se fosse
para dar-lhe nome, não hesitaria. De pronto, pediria licença às “Severinas”
deste Brasil para usar o nome. Sim, batalhadora e persistente, não caberia a
ela outro chamamento. Antes de ir embora, confesso, não vacilei. Dei aquele
abraço apertado na Severina. Que fique em paz!
Pois é, caminhando encontra-se, e encontrando
comenta-se. Fala-se, graças a Deus, ainda, da natureza, mesmo sofrida, porém,
presente, sendo testemunha muda da nossa complexidade, criaturas deste planeta.
Alfredo Domingos
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