segunda-feira, 13 de abril de 2015

A natureza imita a vida?

Fonte da imagem: fotografia feita pelo autor.

A natureza imita a vida ou a vida imita a natureza? Sei lá… Não convém lucubrar.

Caminhando pela Rua Sorocaba, Botafogo, na cidade do Rio, deparei-me com a árvore da imagem aí de cima, na altura do número 190. Uma senhora árvore. Bonitona! Fiquei pensando que a árvore, com a ajuda laboriosa das raízes, busca vida, espaço e completude, entre outras coisas.

Os humanos também têm necessidades semelhantes, no mesmo emaranhado, na mesma disputa desenfreada das raízes da planta, numa confusão enlouquecedora. Mas existe a desvantagem de precisar obrar, ralar, como se diz comumente.

A resolução dos interesses das pessoas não é tarefa fácil. Várias searas são envolvidas, desde a gestação até a situação de idoso. Não há como não interagir. O isolamento é fatal para o indivíduo, que, por mais que recuse, não consegue progredir sem a colaboração de alguém: a mãe, a professora, o síndico do edifício, o patrão, o agente público, o médico, o marido, o próprio filho, e por aí vai…

Com a nossa amiga árvore, ocorre diferente. Ela consegue viver com muito pouco. Silenciosamente. São necessários, basicamente, ar, sol, água e terra, com incômodo mínimo, resolvendo-se sozinha. Até acontece o contrário, são as pessoas que perturbam a mansidão da planta. Dá para observar na foto que a expansão da árvore está contida pelo canteiro feito na calçada. A bonitona está encurralada, safando-se do jeito que pode.

Caso fosse a situação de um “senhor” humano, ele destruiria o empecilho, romperia o obstáculo e sairia arrotando bravura. À coitada, por outro lado, só resta conformar-se e proceder da forma que Deus permite.

Cabe comentar o costume de uma amiga de origem oriental, Yeda, que, quando estava aborrecida ao dormir, deitava sob uma pequena árvore da sua sala, no chão – não sei se de quimono… Dizia, candidamente, que ao acordar estava renovada, leve. Santa companheira! Recordo-me da nora Luciana, que, ao fazer a mudança da cidade de Niterói para o Rio, não se esqueceu de Gertrudes, árvore do seu xodó.

Aproveito para narrar história pitoresca sobre a tal Gertrudes: no transporte, em plena ponte Rio-Niterói, a árvore, instalada na carroceria da picape, balançava cordialmente a copa, no embalo do vento, como no gesto de cumprimentar a todos, expressando-se numa delicada saudação. Parecia uma imponente porta-bandeira, cumprindo o seu desfile.

Voltando à nossa árvore, lá de Botafogo, se fosse para dar-lhe nome, não hesitaria. De pronto, pediria licença às “Severinas” deste Brasil para usar o nome. Sim, batalhadora e persistente, não caberia a ela outro chamamento. Antes de ir embora, confesso, não vacilei. Dei aquele abraço apertado na Severina. Que fique em paz!

Pois é, caminhando encontra-se, e encontrando comenta-se. Fala-se, graças a Deus, ainda, da natureza, mesmo sofrida, porém, presente, sendo testemunha muda da nossa complexidade, criaturas deste planeta.

Alfredo Domingos

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