terça-feira, 28 de abril de 2015

Palavra-ônibus

Fonte da magem: www.etimologista.com
De cá pra lá e vice-versa, matutando, criando sulco no chão, dei com o bestunto num substantivo muito significativo, que é a “palavra-ônibus”.
- Hum, não é que dá caldo! – expressei.
Ela é instigante e, ao mesmo tempo, muito bonita. Sua composição revela a ligação da diversidade de significados, que uma única palavra pode ter, com a grandeza do ônibus. O veículo, como sabemos, abriga coisas e gente à larga, surgindo daí o respaldo para fazer parte e bem representar a variedade de ideias residente na palavra.
Algumas palavras ficam para sempre. Outras caem em desuso. E, ainda, há as que vêm sendo transformadas, assumindo interpretações diferentes.
“Amor” é para a eternidade. “Boco-moco” (brega) saiu do uso. E a “palavra-ônibus” é a expressão da mudança.
Alguns exemplos de “palavra-ônibus”:
- bacana – que é aplicada para designar a pessoa bem vestida; rotular o sujeito esperto, com a conotação pejorativa; demonstrar o mérito de um grandíssimo professor; enaltecer uma boa moradia; ressaltar que a pessoa é bem-educada; e por aí vai;
- aposentadoria – que tanto significa sair do trabalho ativo como é empregada para dar pouso; fazer pausa; e, até mesmo, cessar alguma coisa;
- complicado – que se por um lado indica situação embaraçosa, pode indicar pessoa de gênio instável, e, também, atividade de difícil solução;
- envolvente – que abarca, no sentido de proteção; que alicia, no jeito negativo da corrupção; que atrai, com sedução; e que passa a lábia, obtendo algo por astúcia;
- legal – que se submete à lei, o mais comum; mas cabem as formas de perfeição, de lealdade e de dignidade. Não há, no entanto, como esquecer a relação com o bonito e com a corriqueira expressão “Fulano é gente boa”. Tudo no mesmo pacote.
Porém, a melhor palavra-ônibus, a rainha delas todas, que broca doidamente a minha cabeça, é “coração”, que consegue reunir infinitos sábios significados. Alguns deles estão formulados:
- venha cá, meu “coração”;
- não magoe o meu pobre “coração”;
- digo-lhe, de “coração”, que é verdade;
- saio da relação de “coração” limpo;
- juro, de “coração”, que a coisa foi assim;
- em “coração” de mãe sempre cabe mais um;
- é com o “coração” apertado que me despeço;
- o prédio da Prefeitura é o “coração” da cidade;
- mentira de “coração” não é maldosa; e
- cumpro o dever de abrir, despudoradamente, o meu “coração”.
Que a moda pegue! É a minha dica.
Pense você também nas “palavras-ônibus” que circulam por aí.
A cada parada, a cada semáforo e a cada esquina elas surgem. Que tal pegar carona?!
Alfredo Domingos

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