sexta-feira, 17 de abril de 2015

Lira Paulistana (homenagem ao seu autor)

Fonte da imagem: www.tribarte.blogspot.com (arte da Tarsila do Amaral)

Quando eu morrer quero ficar,

Não contem aos meus inimigos,

Sepultado em minha cidade,

          Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,

No Paissandu deixem meu sexo.

Na Lopes Chaves a cabeça

          Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem

O meu coração paulistano:

Um coração vivo e um defunto

          Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido

Direito, o esquerdo nos Telégrafos,

Quero saber da vida alheia,

          Sereia.

O nariz guardem nos rosais,

A língua no alto do Ipiranga

Para cantar a liberdade.

          Saudade...

As mãos atirem por aí,

Que desvivam como viveram,

As tripas atirem pro Diabo,

Que o espírito será de Deus.

          Adeus.
Mário de Andrade

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